São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Candidato antiguerra, Obama agora aproxima-se de militares

Por ELISABETH BUMILLER

WASHINGTON - A tentativa de aproximação começou há mais de um ano, quando Barack Obama, candidato antiguerra que nunca tinha feito serviço militar, procurou um grupo de jovens oficiais que acabara de cumprir serviço para obter deles uma visão nova das duas guerras dos EUA.
"Ele nos fez muitas perguntas", recordou um dos oficiais, Craig Mullaney, ex-integrante do Exército no Afeganistão e que, viajando na campanha com Obama, contou a ele como seu pelotão de 35 homens vacinara camelos, trabalhara com líderes tribais e estivera encarregado da segurança de uma Província de cerca de 25 mil quilômetros quadrados.
Essa primeira aproximação deu lugar à cuidadosamente planejada campanha de Obama para gerar confiança entre os militares e evitar os erros que dificultaram a ação de Bill Clinton (1993-2001), seu antecessor democrata.
Funcionários do Pentágono se dizem aliviados porque Obama, até agora, vem avançando devagar em relação a duas promessas de campanha: retirar as tropas americanas do Iraque em 16 meses e permitir que gays e lésbicas façam serviço militar abertamente.
Os assessores de Obama assinalaram que evitarão conflitos precoces envolvendo as Forças Armadas e que aguardarão meses antes de agir no sentido de revogar a política "não pergunte, não revele", instaurada há 16 anos, que requer que gays e lésbicas no Exército mantenham sua orientação sexual em segredo. (A tentativa, feita por Clinton em 1993, de autorizar gays e lésbicas a servir abertamente nas Forças Armadas, suscitou uma reviravolta no Pentágono; a solução conciliatória adotada foi a política "não pergunte, não revele".)
O esforço de Obama para aproximar-se dos militares chegou a um ponto em que já está suscitando preocupação em parte de sua base progressista. O maior grupo nacional de lobby pelos direitos dos gays exortou o presidente a acabar com o "não pergunte, não revele" em seus primeiros cem dias no poder.
As Forças Armadas não são monolíticas, mas é seguro afirmar que Obama não foi seu candidato na eleição de 2008. No final do ano passado, uma pesquisa do "The Military Times", embora não fosse representativa das Forças como um todo, constatou incerteza e pessimismo em relação a Obama entre os 1.900 militares da ativa que participaram do estudo. Não apenas Obama nunca fez serviço militar, como tem um dos históricos de votação mais à esquerda no Senado e um passado que parecia destoar culturalmente das tradições mais conservadoras dos militares.
E, embora o avô de Obama tenha servido no Exército de Patton na Segunda Guerra Mundial -fato que ele mencionou em campanha-, sua própria exposição às Forças Armadas era escassa. Para aumentar seus conhecimentos sobre o assunto e consolidar suas credenciais, ele procurou aproximar-se de generais da reserva durante a campanha, como já é de praxe entre candidatos.
Obama também se aproximou de um grupo de oficiais mais jovens, todos veteranos do Iraque ou do Afeganistão, que lhe relataram a situação em campo nessas duas guerras, ajudando a elevar sua fluência no tema militar.
O grupo incluiu Mullaney, 30, que estudou em Oxford com bolsa de estudos e é autor de um livro ainda inédito sobre o Afeganistão, "The Unforgiving Minute" (O minuto sem perdão). Ele foi assessor de segurança nacional na campanha de Obama em Chicago.
Autoridades militares dizem que um grande passo na campanha de Obama para conquistar a confiança delas foi o fato de ele ter mantido o secretário da Defesa do governo Bush, Robert Gates.
Funcionários do Pentágono também apontam para gestos precoces de Obama que foram simbólicos, mas importantes para eles. Qualquer pessoa que já foi militar pôde ver que Obama tomara o tempo necessário para ensaiar a saudação militar que fez em 20 de janeiro. Na semana anterior, ele levara uma coroa de flores ao Túmulo dos Soldados Desconhecidos no Cemitério Nacional de Arlington e visitara soldados feridos num centro médico do Exército.
Há tempos difíceis pela frente, é claro. O presidente terá que decidir sobre como cumprir sua promessa de tirar as tropas do Iraque em 16 meses. Muitos no Pentágono consideram o cronograma arriscado demais, mas a esquerda espera que Obama o cumpra.
"Não temos razões para pensar que ele esteja recuando em relação ao que prometeu e não achamos que essa promessa seja incompatível com um bom diálogo com os generais", disse Eli Pariser, diretor do MoveOn.org, grupo de esquerda que faz oposição à guerra.
Mesmo assim, opinou Pariser, "Obama sabe que há milhões de americanos que votaram nele porque ele prometeu trazer os soldados para casa".


Texto Anterior: Quem está enganando quem?
Próximo Texto: Empregos a jornalistas geram debate sobre parcialidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.