São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Cestos ajudam população nativa e natureza peruana

Por ROXANA POPESCU

SAN ANTONIO DE PINTUYACU, Peru - As mulheres desta remota aldeia amazônica sabem tecer fibras com os ramos da palmeira chambira para fazer praticamente tudo de que precisam -redes de pesca, redes para dormir, sacolas, saias e fio dental.
Mas no último ano elas depositaram suas esperanças nos cestos e teceram centenas, para formar um estoque e exportar para os EUA. Seus primeiros compradores internacionais são o Museu de História Natural de San Diego (Califórnia) e o Zoológico de San Diego, e elas pretendem vender a outros museus e a lojas de decoração.
O empreendimento é um dos muitos na Amazônia destinados à "conservação produtiva", que, segundo os defensores, vão salvar a floresta tropical, transformando-a em um recurso econômico renovável para a população local -assim como tentaram fazer algumas pousadas e outros empreendimentos ecoturísticos em lugares como a África e o Sudeste Asiático.
O governo de Loreto, região de densa floresta e a menos povoada do Peru, organizou o "projeto cesto", financiado com verbas de dois grupos sem fins lucrativos, o Nature and Culture International e a Moore Foundation.
Mas o programa tem seus críticos. Iván Vázquez, que governa a região de Loreto, disse que ganhou inimigos por apoiar a conservação em uma região onde a pesca e a extração de madeira são as fontes de renda básicas há décadas. "Fazemos parte da natureza. Quando destruímos a natureza, destruímos a nós mesmos", disse Vázquez.
O "projeto cesto" foi idéia de Noam Shany, um agrônomo e empresário israelense. Uma viagem para observar aves em 2005 o levou a uma aldeia remota no rio Tahuayo, um afluente do Amazonas. Ele disse que lá percebeu belas cestas locais à venda em uma pousada.
Shany decidiu aplicar sua experiência de comerciante a uma finalidade ambiental. Em 2006, ele ajudou a fundar o Procrel, um programa de biodiversidade que trabalhou com o governo regional para estabelecer três enormes reservas protegidas. O programa dos cestos é uma das várias iniciativas conservacionistas destinadas a ajudar os indígenas.
Os artesãos recebem de US$ 10 a 12 por cesto, que é vendido a US$ 40 nos EUA. Cerca de um terço disso vai para o transporte e a distribuição, e o resto é lucro do revendedor, o que significa que a empresa que distribui os cestos ganha por unidade um pouco mais que os fabricantes. Shany e o Procrel não ganham nada.
A parte dos artesãos pode não parecer substancial, disse Shany, mas é mais que o dobro da renda mensal anterior. Dois anos atrás, as famílias dessa região ganhavam cerca de US$ 30 por mês vendendo peixe e telhado de folha de palmeira nos mercados da cidade, ele disse. Hoje os tecelãos experientes podem ganhar até US$ 100 por mês.
Os cestos estão trazendo comida e estabilidade. "Já estamos comprando mais nas 'bodegas' -arroz, açúcar, sabão...", disse Erika Catashunga, que acaba de receber a primeira licença concedida a uma tecelã de cestos pela Procrel, estabelecendo-a como gerente de uma empresa comunitária de nove aldeias, chamada Mi Esperanza.


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