São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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Ataques à Coreia do Norte caem suavemente do céu

Por MARK McDONALD

IMJINGAK, Coreia do Sul - Su-hyun Lee, o local de uma batalha feroz durante a Guerra da Coreia, tornou-se o ponto de lançamento preferido para alguns ativistas sul-coreanos que enviam balões com propaganda para a Coreia do Norte.
A campanha de balões irritou tanto o Norte que seus militares ameaçaram, ainda no mês passado, bombardear "impiedosamente" Imjingak e outras cidades na fronteira, se os lançamentos continuarem. Alguns balonistas são agitadores políticos, outros são missionários cristãos, na maioria desertores norte-coreanos. Se o vento estiver soprando em suas costas, eles dizem, milhões de panfletos serão enviados nas próximas semanas.
"A Coreia do Norte disse que vai disparar ataques cirúrgicos contra os que soltam balões. Essa reação altamente alérgica, portanto, mostra claramente que o que fazemos está funcionando", disse Park Sang-hak, 43, filho de um ex-espião norte-coreano que desertou com sua família em 1999.
Hoje, Park dirige a "Combatentes pela Coreia do Norte Livre", um grupo de direitos civis em Seul que se tornou o mais agressivo lançador de balões.
Park e outros balonistas têm seus adversários políticos domésticos, principalmente as organizações que buscam o retorno da Coreia do Sul à chamada política ensolarada, que favorece uma abordagem conciliatória com o Norte. Alguns desses grupos, ocasionalmente, tentam sabotar os eventos de balões mais estridentes.
"Recebemos ameaças contra ele com muita frequência", disse um policial à paisana que protegia Park antes de um lançamento recente.
Na maior parte da última década, o governo sul-coreano tentou bloquear os lançamentos de balões. Mas a política mudou drasticamente na primavera do último ano, depois do afundamento do navio de guerra sul-coreano Cheonan, com a morte de 46 marinheiros. O Sul denunciou um ataque de torpedo norte-coreano, mas o Norte diz que não teve participação.
"Antes, nós tentávamos convencer os balonistas a não fazer nada, porque afetava negativamente as relações intercoreanas", disse uma autoridade do Ministério da Unificação. "Mas, depois do Cheonan, nossa posição mudou", acrescentou. "Hoje, não os impedimos."
Park aperfeiçoou sua técnica juntamente com Lee Min-bok, um cristão evangélico, e outras figuras importantes na campanha de balões. Desde 2003, eles começaram amarrando alguns panfletos escritos à mão a balões de crianças comprados em uma loja de festas. Antes colegas dedicados, os dois, hoje, são adversários ferrenhos.
"Eu sou o original", disse Lee, que foi um cientista agrônomo na Coreia do Norte. Sua operação é financiada por doações de igrejas e cristãos conservadores. Ele disse que lançou 1.500 balões por ano e responde por 90% de todos os panfletos enviados ao Norte, cerca de 250 milhões até agora.
Lee, que usa vários locais de lançamento escondidos ao longo da fronteira, zombou dos lançamentos de Park como meros golpes publicitários. Ele disse que os balões de Park, geralmente, acabam flutuando de volta para o Sul.
Park, por sua vez, chamou Lee de "zelote cristão", que teria sido expulso de seu grupo secular vários anos atrás porque queria enfatizar a religião em seus panfletos.
Às vezes, Lee envia pequenos rádios, aspirina, canetas ou pastilhas antiácidas. Mas nunca envia Bíblias, dizendo que os norte-coreanos seriam gravemente punidos se fossem apanhados com uma.
As mensagens de Park, muitas vezes, contêm ataques altamente pessoais contra Kim Jong-il, o líder norte-coreano, e a seu plano dinástico para que seu filho mais moço assuma o poder. Um vídeo de rap em DVD inclui charges que mostram Kim Jong-il como um travesti com saltos altos, em um bustier apertado, como um Elvis obeso em um macacão branco e como um bêbado de nariz inchado com um boné dos New York Yankees.
Outra mensagem ridiculariza as opções de moda de Kim, terminando com a frase: "E seus paletós são bregas!".
Os moradores locais, mesmo que concordem com a política de Park, não gostam de vê-lo chegar. Prefeririam não estar no alvo dos canhões norte-coreanos. E também porque os lançamentos de balões podem causar confrontos, e muitos turistas sul-coreanos mantêm a distância.
Lee Nam-soon, 78, que não é parente de Lee Min-bok, é uma das que reprovam os lançamentos como um empecilho à paz com o Norte.
"Esses homens com balões têm o direito de fazer isso", ela disse. "Mas é infantil e tolo. Eles parecem meninos", ela disse. "Meninos brincando com fósforos."


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