São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011

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Tecnologia acelerou a evolução do ser humano

Por PATRICIA COHEN

O economista premiado com o Nobel Robert W. Fogel e um grupo de seus colegas vêm pesquisando assiduamente, há quase três décadas, o que as dimensões e a forma do corpo humano revelam sobre as mudanças econômicas e sociais advindas ao longo da história. Sua pesquisa deu origem não apenas a um novo filão de estudos históricos, mas também a uma teoria provocante segundo a qual a tecnologia acelerou a evolução humana de maneira inusitada ao longo dos últimos cem anos.
Neste mês, poucas semanas antes do 85° aniversário de Fogel, a editora Cambridge University Press vai publicar uma obra que vai coroar a pesquisa: "The Changing Body: Health, Nutrition, and Human Development in the Western World Since 1700" (o corpo em transformação: saúde, nutrição e desenvolvimento humano no mundo ocidental desde 1700). O livro resume o trabalho de dezenas de pesquisadores em um dos projetos mais ambiciosos já empreendidos no estudo da história econômica.
Fogel e seus coautores, Roderick Floud, Bernard Harris e Sok Chul Hong, afirmam que "na maior parte do mundo, mas não em todas as partes, o tamanho, o formato e a longevidade do corpo humano mudaram de modo mais substancial e muito mais rápido nos últimos três séculos do que ao longo de muitos milênios anteriores". Além disso, escrevem, essa alteração se deu em um período de tempo "minúsculo, pelos padrões da evolução darwiniana".
Movida por avanços na produção de alimentos e na saúde pública, essa chamada "evolução tecnofisiológica" superou de tal maneira o ritmo da evolução tradicional, argumentam os autores, que os humanos de hoje se diferenciam não apenas de todas as outras espécies, mas também de todas as gerações anteriores de Homo sapiens.
"Não sei se existe na história humana uma história mais importante que a dos avanços na saúde, que incluem altura, peso, deficiência e longevidade", disse Samuel H. Preston, um dos demógrafos mais respeitados do mundo e sociólogo na Universidade da Pensilvânia. Sem os avanços conquistados no século 20 na nutrição, no saneamento e na medicina, apenas cerca de metade da população americana atual estaria viva hoje, segundo ele.
Na Europa, na época da Revolução Francesa, um francês de 30 anos pesava em média cerca de 50 quilos, contra 77 em média hoje. Na Noruega, um homem médio de 22 anos media 179 centímetros no final do século 20, 14 centímetros a mais que a média do final do século 18, 165 centímetros.
Angus Deaton, economista da Universidade Princeton, diz que também admira o trabalho de Fogel, mas vê com ceticismo a ênfase sobre a nutrição, além de algumas das conclusões às quais os pesquisadores chegaram com base na altura dos humanos.
"Não entendemos realmente porque adultos e crianças africanos são tão mais altos que adultos e crianças indianos, mas não pode ser em função de sua renda, já que os indianos são muito mais ricos", disse ele.
Mas "The Changing Body" é repleto de gráficos e tabelas de estatísticas que incluem as alturas de meninas na Alemanha e Croácia, a energia calórica derivada de batatas, peixes e vinho, e os volumes anuais médios de grãos e carnes consumidos por viúvas do condado de Middlesex, no Massachusetts, entre 1654 e 1799.
O argumento básico é bastante simples: que a saúde e nutrição de mães gestantes e seus filhos contribuem para a força e longevidade da geração seguinte. Se os bebês forem privados de nutrição suficiente durante a gestação e na primeira infância, serão mais frágeis e mais vulneráveis a doenças mais tarde na vida. Esses adultos enfraquecidos irão, por sua vez, gerar filhos mais fracos, em uma espiral que se autorreforça. O corpo humano é tremendamente flexível e responsivo, disse Fogel, fato que o enche de confiança na ideia de que "a tendência em direção a corpos maiores e vidas mais longas vai continuar no futuro".


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