São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2010

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Cresce a adesão de alemães à jihad radical

Por SOUAD MEKHENNET
FRANKFURT - Antes de Abi partir da casa dos pais, no norte da Alemanha, no ano passado, ela perguntou: "Papai, o que posso lhe trazer da minha viagem?". Ele levantou os olhos do seu livro e respondeu: "Óleo perfumado".
Mais de um ano depois, ele continua esperando o regresso da filha.
Abi, 23, e seu marido jamais fizeram a viagem que diziam ter planejado, para visitar Meca e Medina, na Arábia Saudita.
Em vez disso, o casal se tornou parte do crescente número de jovens muçulmanos da Alemanha e de outros países europeus que viajam à região da fronteira entre Afeganistão e Paquistão, indo parar em acampamentos de grupos afiliados à Al Qaeda e ao Taleban.
Um alemão, Eric Breininger, foi posteriormente dado como morto em combate contra tropas paquistanesas. Um site em idioma turco anunciou que, nos últimos dias, nove combatentes estrangeiros morreram ao viajar para cumprir operações do Taleban. Dois deles foram identificados como alemães, de Bonn e Berlim.
Outros foram detidos sob várias acusações. Num dos casos, várias pessoas foram condenadas por planejar ataques contra instalações militares americanas na Alemanha.
Funcionários de inteligência estão preocupados pelo fato de os jovens, a maioria na faixa dos 20 anos, estarem sendo usados pelos militantes para fins de propaganda, ou treinados para pegar em armas. Eles também temem que alguns se infiltrem de volta na Alemanha para recrutar outros, ou para aderir a células adormecidas e, afinal, cometer atos de terrorismo.
"Essa é uma situação muito perigosa, e os serviços alemães de segurança estão muito nervosos com isso", disse Guido Steinberg, especialista em terrorismo do Instituto Alemão para os Assuntos Internacionais e de Segurança, de Berlim.
"A Al Qaeda e outras organizações colocaram a Alemanha em um dos primeiros lugares na sua lista de alvos prioritários."
As autoridades creem que o número de jovens alemães que fazem essa viagem seja relativamente pequeno, talvez menos de 200 desde o começo da década de 1990. Mas elas também acreditam que o número esteja crescendo, em parte graças aos vídeos em alemão na internet, alguns deles de autoria do grupo Mujahedin Taleban Alemão.
A maioria dos que rumam para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão deixa a Alemanha de carro, para evitar a vigilância dos aeroportos; muitos vão à Turquia e de lá ilegalmente ao Irã, onde encontram contrabandistas que os levam ao seu destino.
Também preocupa as autoridades que famílias inteiras aparentemente estejam indo, após vender seus bens e sacar suas economias do banco.
Os pais de Abi -a mãe é alemã; o pai, da África Ocidental- estão perplexos com a transformação da filha, de aluna ocidentalizada de odontologia em muçulmana radical.
As mudanças começaram aos poucos, dizem eles, quando Abi se apaixonou por um iraniano criado na Alemanha. Depois de se casarem em uma mesquita em 2008 -o que chocou o pai, que é muçulmano-, os dois jovens mudaram de comportamento e de vestuário.
O marido, que era xiita, começou a seguir uma vertente sunita radical e deixou a barba crescer; Abi passou a cobrir a cabeça e rompeu com os amigos. "Meu marido disse a ela que não era isso que o islã pregava, mas ela não deu ouvidos", contou a mãe.
Em março de 2009, Abi, o marido e três outras pessoas deixaram suas casas na Alemanha e foram parar na região paquistanesa do Waziristão. No começo, Abi disse aos pais por e-mail que ela e o marido queriam viver numa sociedade islâmica, embora posteriormente o marido tenha sinalizado aos pais dele que desejava voltar à Alemanha.
Mas aí ele apareceu em um vídeo de propaganda com uma arma na mão. "Eu soube então que seria muito difícil eles voltarem", disse a mãe de Abi.
Outra família alemã alarmada é a de Thomas, 24, um convertido ao islã que se tornou mais praticante nos últimos dois anos, adotou o nome Haroun e, junto com a mulher, começou a falar em se mudar para um lugar onde eles pudessem praticar sua fé mais completamente.
"Fomos à polícia e ao serviço de inteligência e pedimos ajuda, porque notamos que eles haviam mudado", disse a mãe dele. "Gritamos por ajuda." Mas as autoridades não tinham base legal para intervir.
Em setembro passado, Thomas e a mulher disseram que sairiam de Berlim numa viagem para celebrar o primeiro aniversário de casamento. Em vez disso, foram para o Waziristão. Em dezembro, ele escreveu que não sabia se veria o verão seguinte.
"Desde então, nenhuma mensagem, nenhuma ideia de se ele está vivo ou morto, nenhuma certeza", disse a mãe dele.


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