São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2010

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ENSAIO - PHYLLIS KORKKI

Bom salário não compensa "ignorar" sua vocação

Quando você percebe, anos depois de ter começado em uma profissão, que ela não é a certa para você O que fazer se você não está feliz em seu emprego? É possível que esteja numa profissão completamente errada?
Infelizmente, esse dilema é muito comum. E a pressão para se tornar "alguém na vida" começa desde cedo.
Pais, pares e professores exercem influência às vezes antes que os jovens saibam quais são suas inclinações pessoais.
Considere-se o caso da mãe que ajuda a persuadir seu filho a tornar-se advogado, o do pai que incentiva sua filha a estudar medicina ou o do estudante que escolhe um curso universitário quase a esmo porque o curso pode lhe conduzir a um emprego bem pago.
Nesses casos, os estudos podem muito bem levar a estágios, primeiros empregos e, em pouco tempo, experiência e salários bons. Com uma ressalva: a pessoa não sente que aquele trabalho é sua verdadeira paixão, ou vocação.
"A maneira como as pessoas escolhem profissões é incrivelmente primitiva", disse Nicholas Lore, fundador da firma de "coaching" vocacional Instituto Rockport. Para ele, não surpreende que haja tantas pessoas insatisfeitas.
A insatisfação com a carreira escolhida é algo que tem suas raízes nos alicerces da identidade da pessoa, disse Robert I. Sutton, professor e psicólogo organizacional da Universidade Stanford.
"Não estou preparado para afirmar que exista uma vocação real, mas acho que, para muitos de nós, há uma vocação que seria mais acertada", disse Sutton. Outro sintoma disso é a irritação constante sentida com as exigências de um emprego, mesmo que essas exigências sejam razoáveis para aquela profissão, disse ele.
Segundo Lore, a desilusão pode chegar de repente. Você pode perceber que as tarefas que desempenha não combinam com sua personalidade ou seus talentos. Assim, um pesquisador científico dotado de imaginação vívida pode ser obrigado a focar uma área particular durante anos e concluir que há pouco espaço para sua criatividade. Um médico pode achar seu trabalho repetitivo demais; um advogado pode não sentir prazer em argumentar causas e lidar com a burocracia.
Muitas vezes, disse Lore, as pessoas atribuem valor excessivo às recompensas externas de um emprego, como dinheiro, prestígio e poder. Embora essas coisas sejam importantes, disse, a natureza intrínseca de um trabalho -o tipo de tarefas que você desempenha, as habilidades exigidas e o significado e valor que você atribui a seu esforço- é mais crucial para sua realização pessoal.
Em algum momento, ele recomendou, decida se você vai simplesmente tolerar continuar em seu trabalho atual ou se está determinado a mudar.
E, se você conseguir encontrar uma profissão que se encaixe melhor com você, não espere que ela seja uma panaceia. Seu novo trabalho nem sempre lhe trará diversão e satisfação. "Acho que o trabalho costuma ser hipervalorizado", disse Sutton.
Boa parte do tempo no trabalho é passada em atividades pouco interessantes. Mesmo assim, as pessoas que encontram uma "vocação melhor" vão viver menos momentos de decepção e ficarão mais felizes, cientes de que o que fazem é compatível com quem são.


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