São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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LENTE

Irmãos, no amor e na guerra

"Acho que Ray só foi feliz durante três anos da sua vida. E acredito que foram os três anos antes de eu nascer."
Assim falou Dave Davies sobre o irmão Ray, seu colega na banda The Kinks. Os roqueiros britânicos, famosos pelas desavenças, estão imersos em uma dinâmica familiar que já foi explorada de Shakespeare aos Simpsons: a rivalidade entre irmãos.
E, embora o relacionamento entre irmãos não se restrinja a ressentimentos, provocações e, no caso dos irmãos Davies, trocas de socos no palco, o mau comportamento continua sendo um bom começo.
Estudos mostram que irmãos pequenos brigam aproximadamente a cada 17 minutos.
E, como escreve Jeffrey Kluger em "The Sibling Effect: Brothers, Sisters and the Bonds That Define Us" ("O Efeito Irmãos: Irmãos, Irmãs e os Vínculos que nos Definem"), as brigas entre irmãos já começam a ser vistas como um fator primário na formação da personalidade. Pesquisas anteriores enfocavam os pais, o DNA e fatores socioeconômicos.
"Nossos cônjuges chegam comparativamente tarde nas nossas vidas; nossos pais uma hora nos deixam. Nossos irmãos podem ser as únicas pessoas que realmente se qualificam como parceiras para a vida toda", escreve ele.
A dinâmica entre irmãos pode estar enraizada na competição primitiva pelos limitados recursos físicos e afetivos dos pais.
Kluger cita uma pesquisa segundo a qual 65% das mães e 70% dos pais preferem um dos seus filhos, geralmente o mais velho.
A socióloga Katherine Conger, da Universidade da Califórnia, em Davis, que organizou esse estudo, disse a Kluger que os filhos preteridos "tendem a ser mais tristes e a terem mais problemas de autoestima".
Mas, resenhando o livro de Kluger no "The New York Times", Alison e Adam Gopnik salientaram que os filhos do meio podem ser mais diplomáticos que os mandões irmãos mais velhos, e que os caçulas muitas vezes se tornam cáusticos satiristas.
Os irmãos caçulas também podem ser menos avessos ao risco, um comportamento que talvez decorra da luta primordial por comida e sobrevivência.
Como relatou o "Times", os cientistas sociais Frank Sulloway e Richard Zweigenhaft analisaram as estatísticas de irmãos jogadores de beisebol, focando nas jogadas mais arriscadas, como o roubo de bases.
Concluíram que em mais de 90% das vezes o irmão caçula roubava mais bases.
No caso das patolas-de-pés-azuis, no entanto, as brigas não parecem deixar marcas. O "Times" noticiou que, embora as aves mais velhas tratem a bicadas os caçulas no ninho -deixando-os com menos comida e maiores níveis de hormônio do estresse-, os mais novos, quando adultos, demonstram a mesma agressividade na defesa dos seus próprios ninhos.
Nos seres humanos, as bicadas geralmente evoluem para um relacionamento adulto cheio de amor, segundo os pesquisadores.
E os atritos entre irmãos ensinam que até mesmo conflitos aparentemente sem solução podem ser resolvidos.
Outra banda de rock, a Allman Brothers, serve de contraponto aos Kinks. Gregg e Duane Allman brigavam sem parar na infância, mas desenvolveram um profundo amor e um vínculo musical quase místico, que perdurou depois da morte de Duane, o mais velho, em 1971.
"Toda vez que subo ao palco", disse Gregg, "ainda sinto que ele está bem ali ao meu lado".

KEVIN DELANEY

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