São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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LENTE

Pensar grande, mas agir com cautela

Talvez seja tentador pensar que a era dos grandes riscos financeiros acabou com o velho ano, coroando uma década que se fartou quase até a morte de crédito fácil e otimismo.
Mas pensar grande não saiu completamente de moda.
A diferença hoje é que a ambição provavelmente anda de mãos dadas com um pragmatismo cauteloso. O épico de ficção científica "Avatar", de James Cameron, teria custado algo entre US$ 250 milhões e US$ 500 milhões.
Mesmo para um diretor com um currículo que inclui "Titanic", que faturou US$ 1,8 bilhão em todo o mundo, foi uma empreitada enorme e arriscada. Mas, como relatou o "New York Times", Cameron e seus investidores protegeram suas apostas.
O estúdio que produziu o filme, 20th Century Fox, recrutou investidores privados, aproveitou descontos de impostos na Nova Zelândia e contou com a ajuda tecnológica e de marketing da Panasonic. O objetivo foi proteger a Fox do tipo de derrocada cinematográfica que levou outros estúdios à falência.
A gigante farmacêutica suíça Novartis está exibindo um outro tipo de grandiosidade conservadora, ao reinventar seu enorme campus corporativo em Basileia. Seu principal executivo, Daniel Vasella, contratou uma série de arquitetos famosos, como Frank Gehry e Rafael Moneo, para construir dez novos edifícios de escritórios e pesquisa, com até mais sete para o futuro.
Como escreveu Nicolai Ouroussoff no "Times", "a procissão de tesouros arquitetônicos se estende como joias em uma vitrine". Mas é uma forma de ostentação cuidadosamente controlada: os edifícios são dispostos em simetria ao longo da avenida central do campus, todos respeitando o limite de cinco andares, e o próprio campus é de modo geral fechado ao público.
Vasella disse que, ao contrário dos monumentos ao ego construídos por chefões corporativos de antigamente, os prédios foram desenhados pensando primeiramente nas necessidades dos funcionários. "Construímos para pessoas reais", ele disse a Ouroussoff. "Não construímos para máquinas."
As máquinas aparecem pesadamente, porém, em outro projeto maciço -o contrato de US$ 3,4 bilhões da China pelos direitos de mineração de cobre no Afeganistão (leia mais na pág. 2). Os riscos são óbvios em um país ainda destroçado pela violência e a corrupção.
E, como relatou Michael Wines no "Times", as recompensas potenciais são enormes: os chineses esperam extrair 10 milhões de toneladas de cobre nos próximos 20 anos. Enquanto seu próprio dinheiro está em jogo, Pequim tem um parceiro silencioso no governo e nos militares dos Estados Unidos.
Embora não haja envolvimento americano no projeto de mineração, ele representa o tipo de investimento externo que Washington considera vital para a estabilidade do Afeganistão em longo prazo. Como disse uma autoridade ocidental a Wines, "na medida em que os chineses possam modernizar o Afeganistão e pagar US$ 1 bilhão por ano em royalties, significará que o Afeganistão estará em condições melhores para começar a pagar por sua própria segurança".
Os dois países, em outras palavras, estão protegendo reciprocamente suas apostas no Afeganistão. Mas grandes planos, mesmo os cuidadosamente calibrados, podem levar a grandes sucessos. Pergunte a James Cameron.
No final de dezembro, apenas duas semanas após a estreia, "Avatar" já havia faturado cerca de US$ 760 milhões em todo o mundo. Não se ganha tanto dinheiro pensando pequeno.

JESSE FOX MAYSHARK



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