São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Grávidas chinesas dão à luz nos EUA

Por JENNIFER MEDINA
SAN GABRIEL, Califórnia. - Os policiais e inspetores prediais chegaram a uma pequena fileira de casas parcialmente geminadas, cientes de que algo estava errado. Vizinhos haviam reclamado do barulho e da entrada e saída de muitas mulheres grávidas. Quando os policiais entraram em uma cozinha, viram uma fileira de bercinhos de vime em formato de cesta, contendo vários bebês, e uma mulher ao lado deles, fazendo as vezes de enfermeira.
As autoridades dizem que, durante meses, a casa abrigou "turistas de maternidade" -no caso, eram mulheres vindas da China que pagaram dezenas de milhares de dólares para ter seus filhos nos EUA, o que garante a cidadania americana a seus bebês. As autoridades fecharam a casa e enviaram para motéis da vizinhança as dez mães que estavam vivendo no local com seus bebês.
"Não eram mulheres vivendo em condições abjetas -era um lugar limpo e bem cuidado, mas havia muitas mulheres e bebês", disse Clayton Anderson, inspetor da prefeitura que fechou a casa em 9 de março. "Nunca antes vi algo assim. Realmente, não pudemos determinar com precisão o número de pessoas que residiam no local."
A discussão sobre a cidadania dada automaticamente por nascimento vem sendo acirrada nos Estados Unidos nos últimos 12 meses, com alguns líderes políticos americanos pedindo o fim de uma emenda constitucional, que confere cidadania automática a qualquer bebê nascido no país. O debate vem focando imigrantes que ingressam no país de maneira ilegal, vindos de países pobres da América Latina. Mas, no caso acima citado, as mulheres não apenas eram relativamente ricas como estavam nos EUA legalmente, com vistos de turista. A maioria delas, segundo as autoridades, já retornou à China com seus filhos americanos.
Especialistas em imigração dizem que é impossível saber qual é a extensão do "turismo de maternidade". Empresas da China, do México e da Coreia do Sul anunciam pacotes que incluem médicos, seguro médico e atendimento pós-parto. E o Marmara, hotel de proprietário turco em Nova York, anuncia "estadias de bebê" de um mês de duração que incluem um carrinho de bebê no pacote.
De maneira geral, contudo, a prática envolve indivíduos. A descoberta da casa com seu sistema de atendimento em grande escala aqui, em San Gabriel, suscita perguntas: foi um fenômeno raro ou é uma indicação de que o turismo de maternidade está ingressando em uma fase nova e mais institucionalizada, com mais instalações quase hospitalares operando sem alarde em todo o país? Os sinais de uma maternidade improvisada eram visíveis. Em uma cozinha, pilhas de fotos mostrando uma mãe segurando seu bebê de apenas alguns dias de vida estavam ao lado de várias latas de leite infantil em pó. Em outra, panelas para o preparo de arroz continham caixas de vitaminas para gestantes. Vários dos quartos tinham números sobre as portas. Alguns dos quartos eram luxuosos -o B9, por exemplo, tinha um grande closet, banheira com hidromassagem e minigeladeira pessoal.
O Centro de Estatísticas da Saúde estima que em 2008, o ano mais recente para o qual há estatísticas, 7.462 crianças nasceram nos EUA de mães estrangeiras residentes no país. É uma pequena fração do total de nascimentos no país naquele ano, aproximadamente 4,3 milhões.
Especialistas em imigração dizem que só podem aventar palpites quanto à razão que pode levar chinesas de alto poder aquisitivo a ser tão ansiosas por conseguir passaportes dos EUA para seus filhos, mas eles suspeitam que seja em grande medida uma espécie de seguro, para o caso de terem a necessidade de se mudar da China. Quando chegarem aos 21 anos, os filhos terão direito a solicitar ao governo dos EUA a concessão da residência permanente a seus pais. Os funcionários do governo fizeram perguntas básicas às mulheres que encontraram na casa-maternidade: como chegaram até aqui e quem pagou por sua viagem. As respostas: "Com vistos de turista, e a viagem foi paga por nossas famílias".
O proprietário da casa, Dwight Chang, foi multado em US$ 800 por violação do código habitacional. Chang não retornou vários telefonemas, e um funcionário do imóvel disse que ele estava viajando e não estava disponível. Yolanda Alvarez, que passa diante das casas duas vezes por dia, levando seu cachorro para passear, disse que os vizinhos vinham se queixando uns aos outros havia quase um ano, observando "muitas, muitas mulheres jovens" entrando e saindo da casa.
Várias fotos de uma enfermeira posando com mães de recém-nascidos estavam espalhados pelos balcões. Um azulejo enquadrado acumulava poeira em meio à construção. "É no lar que sua história começa", dizia a inscrição no azulejo.


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