São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Desastre diminui o apetite pelo luxo

Por LIZ ALDERMAN
Os consumidores japoneses compraram quase um quarto dos produtos de luxo vendidos no mundo no ano passado, mas suas prioridades assumiram um tom muito diferente depois do terremoto, seguido pelo tsunami e pelo desastre nuclear.
"Hoje, percebo o quanto desperdicei", disse Maki Kusaka, funcionária de escritório de 23 anos em Tóquio, que possui dez bolsas Gucci. Hoje, ela disse que quer gastar menos tempo fazendo compras "para me dedicar mais às pessoas que sofrem com o terremoto".
Embora os produtos de luxo sejam vistos como um sinal da classe alta em outros países, eles são, no Japão, parte da vida da classe média. Os consumidores deixam de tirar férias ou fazer refeições caras para poder comprar roupas ou bolsas de luxo. Os japoneses representaram 24% de todas as vendas de produtos de luxo em 2010, segundo o Deutsche Bank, comparados com 22% na Europa, 20% na América do Norte, 19% na China e 15% em outros mercados.
Agora, segundo analistas, o desastre triplo alertou os japoneses para uma nova realidade. Embora quase todas as empresas de produtos de luxo -Louis Vuitton, Hermès, Coach, Bulgari, Gucci, Richemont e Tiffany- ainda contem com o Japão para 13% em média do seu lucro total, alguns analistas esperam que a demanda possa cair 30% neste ano e continue morna por até cinco anos.
Outros analistas dizem que a imagem no Japão não deverá continuar tão negativa. Depois do terremoto menor, de magnitude 7.2, que arrasou partes da região de Kobe em 1995, por exemplo, as vendas de luxo caíram apenas um quarto antes da recuperação. "O impacto tende a ser muito emocional e forte em curto prazo", disse Luca Solca, analista de produtos de luxo na Sanford C. Bernstein & Company. "Mas, como aprendemos com Kobe, as coisas tendem a voltar ao normal."
Em um sinal de que parte da preocupação pode ter passado, as ações das grandes companhias de luxo recuperaram pelo menos a metade das quedas de 7% a 14% que sofreram depois do terremoto de 11 de março.
Diante da magnitude maior do desastre, porém, o impacto poderá se desdobrar por período mais extenso.
"Esperamos que os volumes de produtos de luxo vendidos no Japão e para consumidores japoneses em outras partes do mundo encolham muito", escreveu em um relatório recente Edouard Crowley, analista do Exane BNP Paribas. Os temores de radiação provocaram evacuações de Tóquio, o local de consumo de ponta.
O bairro de Ginza, que abriga um dos maiores enclaves de luxo do mundo, "está totalmente vazio", disse G. C. Amarit, funcionário de um restaurante indiano. "As pessoas não vêm mais aqui. Estamos recebendo 50% a menos de clientes."
Enquanto Louis Vuitton, Gucci, Hermès, Tiffany e outras marcas top começaram a reabrir lojas, nenhuma quis discutir previsão ou comentar se os acontecimentos vão mudar a estratégia para o mercado japonês.
Com o tempo, qualquer redução nas compras japonesas será equilibrada pela expansão na China e em outros lugares.
"Eu espero para o Japão que o impacto seja menos grave do que alguns temem", disse Yuval Atsmon, diretor associado da McKinsey & Company em Xangai.

Colaborou Chika Ohshima


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