São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Europa sinaliza que vai colaborar com Obama

Por THOM SHANKER e HELENE COOPER

WASHINGTON - Depois de criticar o governo Bush em diversas frentes, os governos europeus indicam que talvez estejam mais dispostos a se envolver com o próximo governo Obama sobre diversas questões proteladas, entre elas o reforço das sanções contra o Irã e o recebimento de prisioneiros do centro de detenção da baía cubana de Guantánamo.
Mas diplomatas europeus também disseram que vão pressionar o presidente eleito Barack Obama para aliviar a irritação russa sobre os planos de estabelecer bases de mísseis de defesa na Europa. E autoridades americanas dizem que o governo Obama certamente vai pressionar os países para cumprir ou até aumentar as promessas de pessoal e equipamento para a missão da Otan (aliança militar ocidental) no Afeganistão, há muito tempo um ponto de tensão entre os aliados.
"Há expectativas em toda a Europa de que os EUA pedirão mais", disse um alto oficial americano. "A questão é se virão quantidades decisivas."
Os aliados dos EUA podem estar mais dispostos a ajudar Obama no Irã -desde que ele faça valer sua promessa de permitir que seu governo se envolva diretamente com as autoridades iranianas sem precondições, disse um diplomata europeu.
Os EUA, juntamente com a União Europeia, a Rússia e a China, vêm tentando fazer o Irã abandonar seu programa nuclear por meio de uma combinação de sanções e incentivos econômicos, sem sucesso até agora. Membros do governo Bush se queixaram de que parte do problema foram a Alemanha, a Rússia e a China, em particular, que não quiseram impor sanções punitivas contra Teerã.
Mas os países poderão estar mais dispostos a endurecer as sanções se Obama "atenuar o clima", disse o diplomata, falando diretamente com as autoridades iranianas -uma mudança que os negociadores europeus há muito pedem. "Seria mais fácil então afirmar que estamos tentando de tudo", disse o diplomata europeu.
Por outro lado, os aliados dos EUA estão certos ao esperar um certo quiproquó do governo Obama, em particular sobre os planos de defesa antimísseis, segundo diplomatas europeus.
O Kremlin reagiu com indignação aos planos de Bush de colocar duas bases americanas de defesa antimísseis na Europa, uma na Polônia e uma na República Tcheca, e generais russos graduados até ameaçaram retaliação militar contra membros da Otan. Alarmados pela crescente tensão, diplomatas europeus pedirão a Obama que adote uma linha mais conciliatória em relação a Moscou.
Obama ainda não declarou sua política específica sobre a defesa antimísseis, mas manifestou habitualmente grande ceticismo sobre financiar o sistema enquanto suas capacidades não estiverem comprovadas.
Sobre a guerra no Afeganistão, porém, Obama foi franco ao pressionar por um maior esforço militar contra o Taleban. Um sinal particularmente claro foi enviado por sua decisão de manter o secretário da Defesa, Robert Gates, que pediu mais ênfase para o Afeganistão.
Outra questão que pode voltar à mesa é a realocação dos detidos do campo de prisioneiros de Guantánamo. Embora ainda não haja um consenso entre os governos europeus, vários deles, liderados por Alemanha e Portugal, disseram que vão considerar receber os detidos se Obama cumprir a promessa de fechar a prisão.
Essa medida removeria um grande empecilho ao fechamento do campo e representaria uma inversão de parte dos aliados europeus que rejeitaram pedidos do presidente Bush para receber os detidos.
Thomas Steg, um porta-voz do governo alemão, disse que esse acordo dependeria de Obama fechar a prisão militar e que, mesmo assim, "se tomarmos uma posição, só poderá ser em um contexto europeu, baseado em uma discussão com todos os países membros". O Ministério das Relações Exteriores francês também pediu uma política comum da UE sobre como lidar com os prisioneiros de Guantánamo, e alguns diplomatas europeus disseram que vão começar a trabalhar nisso.
Diplomatas europeus disseram em particular que sua disposição de ajudar Obama sobre Guantánamo vai além de uma estratégia de lua-de-mel. Alguns dizem que ajudar a restabelecer os prisioneiros dos campos permitiria que seus países recuperassem a credibilidade com suas populações muçulmanas internas.


Colaborou Steven Lee Myers


Texto Anterior: Tendências mundiais/Análise: O novo significado de uma velha luta
Próximo Texto: Malabarismo delicado espera Hillary em Gaza
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.