São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Ciência & Tecnologia

EUA debatem seu futuro espacia


Polêmico programa de foguetes dependerá de definições de Obama

Por JOHN SCHWARTZ

A agência espacial dos EUA batizou um novo foguete de Ares, o nome do deus da guerra -e a vida dele vem sendo uma batalha desde o início.
O Ares 1 faz parte de um novo sistema de naves espaciais que está sendo projetado pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) para substituir os envelhecidos ônibus espaciais dos EUA. O Ares 1 e sua cápsula Orion, junto com um foguete de carga pesada conhecido como Ares 5, estão sendo pensados para viagens à Lua e mais além.
Problemas técnicos vêm atrapalhando o processo de design do Ares 1, o primeiro dos foguetes programados para ser construídos, o que está provocando atrasos e gastos. Alguns críticos dizem que há problemas profundos no projeto do foguete, enquanto outros observadores argumentam que complicações técnicas existem em qualquer programa espacial dessa abrangência.
As questões vêm sendo tema de debate da equipe de transição presidencial, e o programa espacial pode passar por mudanças depois de Barack Obama chegar ao poder. Durante sua campanha, Obama expressou apoio à Nasa e criticou a demora de cinco anos entre o fim agendado do programa de ônibus espaciais, em 2010, e a estréia do novo sistema, chamado Constellation, em 2015.
Mas a Nasa terá que competir por verbas, já que os EUA enfrentarão crises urgentes e caras.
A equipe de Obama está analisando se um aumento de verba conseguiria acelerar o desenvolvimento da nova nave espacial. A equipe de transição também perguntou se o programa de desenvolvimento está enfrentando problemas reais, e, se sim, se o Ares 1 deveria ser modificado ou substituído pelos foguetes usados pela Força Aérea para lançar satélites, ou, ainda, pelo foguete europeu Ariane 5.
Um porta-voz da equipe de transição, Nick Shapiro, disse que "o papel das equipes de revisão das agências é pesquisar fatos e preparar a gama total de opções a serem analisadas pelos próximos detentores dos cargos".
Apesar disso, tensões já surgiram entre a administração prestes a assumir e a direção da Nasa, cujo administrador, Michael Griffin, está lutando para manter o programa em andamento. Se não for nomeado novamente por Obama, ele ficará no cargo só até o dia 20.
O presidente George W. Bush anunciou o novo rumo do programa espacial em janeiro de 2004, quase um ano depois de a perda do ônibus espacial Columbia ter colocado em destaque os riscos inerentes a essa nave -especialmente a possibilidade de ela ser atingida por detritos durante seu lançamento. Em 2005, a Nasa anunciou o programa Constellation, com as cápsulas Orion que ficarão sobre o Ares 1, fora do caminho dos detritos libertados no lançamento.
Os foguetes Ares são muito diferentes -tanto do ônibus espacial quanto entre si. O Ares 1 utiliza como seu primeiro estágio um lança-foguetes sólido alongado, como os empregados pelo ônibus espacial. O segundo estágio vai queimar hidrogênio e oxigênio líquidos, como fazem os motores principais do ônibus espacial. A Orion ficará em cima. O primeiro teste de um Ares 1 não tripulado pode acontecer já no próximo verão americano.
O processo de design da nave também vem tropeçando em problemas técnicos. A Orion é muito mais pesada que a cápsula Apollo que precedeu o ônibus espacial, e questões de peso obrigaram tanto a cápsula quanto o foguete a ser redesenhados. Os engenheiros da Nasa também tiveram que criar maneiras de amenizar vibrações potencialmente perigosas provocadas à medida que o motor do foguete sólido vai se esvaziando.
Algumas pessoas do programa de desenvolvimento reclamam que ele é dirigido de maneira que sufoca a dissensão e a inovação. O engenheiro Jeffrey Finckenor, que deixou a Nasa no ano passado, enviou a seus colegas uma carta de despedida em que manifestou suas frustrações com o programa: "Nos mais altos escalões da agência parece haver a ideia de que é possível ordenar a realidade, sem aceitar qualquer informação contrária a essa ordenação".
Autoridades da Nasa dizem que o programa Constellation na verdade está avançando bem. Em entrevista concedida em novembro, Griffin disse: "Não posso imaginar que alguém pense que você vai desenvolver um novo sistema de transportes espaciais sem topar com nenhum desafio".


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