São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Câmeras investigam comportamento dos clientes nas lojas

Por STEPHANIE ROSENBLOOM

O curvilíneo manequim atraiu o interesse de dois adolescentes magrelos. Mal sabiam eles, ao apalparem sua camisa justa marrom, que havia câmeras de vídeo espalhadas pela loja. Num shopping, um pai saiu de uma loja arrastando seu filho bagunceiro pelo cangote, como se fosse um gato.
O homem não tinha nem ideia de que suas habilidades paternas estavam sendo gravadas. Numa loja de material de escritório, uma mãe equilibrou sua criança sobre os ombros para alcançar um item em uma prateleira alta, alheia ao fato de que isso também estava sendo registrado.
Podem parecer comportamentos aleatórios, mas tais cenas são significativas para lojas que buscam oferecer uma melhor experiência para o consumidor e, consequentemente, um maior faturamento para si.
Varejistas dizem que as cenas lhes ajudam a encontrar soluções para os clientes, como instalar áreas de repouso e atividades para crianças, ou rebaixar as prateleiras para deixar as mercadorias mais à mão, por exemplo.
Ativistas do direito à privacidade, no entanto, estão perturbados com a quantidade de câmeras, detectores de movimento e outros sensores que monitoram os corredores comerciais dos EUA.
Muitas lojas e as consultorias por elas contratadas estão usando essa parafernália não para flagrar furtos, e sim para analisar e manipular o comportamento do consumidor. E, embora isso seja legal, críticos consideram antiético observar as pessoas como se fossem ratos de laboratório.
Eles se dizem preocupados com a ideia de que tais práticas levem a uma invasão ainda maior da privacidade, particularmente no caso da tecnologia de reconhecimento facial, já nos primeiros estágios de implantação.
Empresas que usam essa tecnologia dizem que ela se presta estritamente a determinar características como idade e gênero, revelando como diferentes pessoas reagem a vários produtos.
Mas defensores da privacidade temem que a técnica, ao se sofisticar, acabe passando dos limites e sendo usada para identificar consumidores individualmente, reunindo informações detalhadas.
"Acho absolutamente inevitável que esse troço seja vinculado a indivíduos", disse Katherine Albrecht, fundadora da entidade Consumidores Contra a Invasão de Privacidade e a Identificação Numérica em Supermercados.
Na opinião dela, é crucial manter alguma privacidade. "Quando alguém está me assistindo, vou agir de um modo diferente do que quando acho que estou sozinha", disse Albrecht. "Eu cutuquei o nariz? O que eu estava fazendo? O que eles viram?"
Os esquemas mais básicos de observação já existem há anos. Eles usam câmeras nos tetos e sensores perto de provadores para descobrir quantos clientes passam pelas portas e aonde tendem a ir.
As empresas que instalam e analisam os vídeos para os varejistas se dizem sensíveis às questões de privacidade e afirmam que as preocupações são exageradas. Elas afirmam que não estão usando a tecnologia para identificar consumidores, e sim para tornar suas compras mais fáceis e agradáveis.
Alguns varejistas relutam em discutir a tecnologia de observação. E não se sabe exatamente quantas câmeras estão monitorando os compradores, em parte porque elas são instaladas e desinstaladas durante vários estudos.
Os defensores da privacidade sabem que as lojas não são propriedade pública, mas, ainda assim, preferiam que houvesse regras como a obrigação de dizer aos compradores que eles estão sob um microscópio.
Mas pode ser tarde demais. Paco Underhill, um pioneiro no campo da pesquisa observacional de clientes, lembrou que as pessoas já são filmadas dezenas de vezes por dia em atividades rotineiras. As lojas são meramente a nova fronteira das câmeras. "Vivemos nossas vidas cercados por elas", afirmou.


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