São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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Tecnologia desencadeia superavit de vacas

Por WILLIAM NEUMAN

HANFORD, Califórnia - Há três anos, um avanço tecnológico deu aos pecuaristas a chance de driblar uma regra básica da natureza: suas vacas não teriam mais de parir um número igual de bezerros e bezerras. Seria possível selecionar o esperma dos touros de modo a produzir muito mais fêmeas, que se tornariam lucrativas vacas leiteiras.
Agora, as primeiras vacas geradas com essa tecnologia, dezenas de milhares delas, estão entrando nos rebanhos leiteiros dos EUA -e não poderia haver pior hora para isso.
O setor de laticínios está em crise, com preços tão baixos que os pecuaristas estão vendendo leite abaixo do custo de produção. O setor luta para reduzir a oferta. E, mesmo assim, uma onda de vacas adicionais começa a despejar leite em um mercado que não precisa dele.
"É realmente simples", disse Tony De Groot, que ordenha 4.200 vacas numa fazenda de Hanford e foi um dos primeiros produtores a adotar a nova tecnologia. "Ficamos com gado demais à mão e bezerras demais à mão, e a oferta não para de aumentar."
Desesperada para recuperar os preços, a Federação dos Produtores de Leite dos EUA tem pagado para que os pecuaristas levem os rebanhos ao abate. Desde janeiro, esse programa já encaminhou cerca de 230 mil vacas do país ao matadouro.
Mas a técnica de seleção, chamada sêmen sexado, deve colocar 63 mil vacas adicionais na produção leiteira neste ano, em comparação ao número que ocorreria se apenas o sêmen convencional fosse usado, segundo estimativas dos pesquisadores.
Esse número irá saltar para 161 mil no ano que vem, e os produtores temem que possa voltar a dobrar em 2011. Embora isso seja apenas uma fração das 9,2 milhões de vacas leiteiras do país, os animais extras neste e no próximo ano devem praticamente equivaler ao total retirado da produção por causa do programa de abate.
A tecnologia de seleção se baseia numa ligeira diferença entre o cromossomo Y, que produz filhotes machos, e o cromossomo X, que produz filhotes fêmeas e tem uma quantidade ligeiramente superior de material genético, ou DNA.
Após ser coletado do touro, o sêmen é misturado a uma tintura que gruda no DNA. Uma máquina detecta a tintura adicional presa aos cromossomos X e seleciona esse esperma, que é vendido às fazendas. (Um instituto de fertilidade nos arredores de Washington está estudando se a técnica pode ser aplicada em pessoas, de modo que os pais possam escolher o sexo dos seus bebês.)
Um típico rebanho da raça Holstein, usando os métodos tradicionais de procriação, produz 48% de crias fêmeas e 52% de machos. Os bezerros são vendidos a preço baixo, para servirem como gado de corte, enquanto as fêmeas são criadas como leiteiras. Mas a seleção do sêmen produz 90% ou mais de fêmeas, o que permite que os pecuaristas ampliem seus rebanhos de forma eficiente.
Scott Bentley, gerente de produtos laticínios da ABS Global, em DeForest, Wisconsin, grande produtor de sêmen sexado, disse que em longo prazo a tecnologia deve ser uma dádiva. Mas, antes, o setor terá de superar a sua pior crise econômica em várias décadas.
"Esta é uma coisa realmente animadora", disse Bentley sobre a tecnologia. "E estes são tempos dificílimos. E você combina as duas coisas e percebe que não funcionou tão bem quanto o esperado."


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