São Paulo, segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

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Presidente iemenita usa terror como chantagem


Aviso: o Iêmen pode ser "pior que a Somália"

Por SCOTT SHANE

WASHINGTON - Em uma reunião com John O. Brennan, assessor principal do presidente Obama para o contraterrorismo, em 2009, o presidente do Iêmen ofereceu barganha incomum, segundo telegramas diplomáticos obtidos pelo WikiLeaks.
Ali Abdullah Saleh "insistiu que o território nacional do Iêmen está disponível para operações de CT unilaterais dos EUA", mas com ressalva. Se houvesse um ataque contra um alvo ocidental, disse Saleh, a culpa não seria sua. "Dei a vocês uma porta aberta ao terrorismo. Então, não sou responsável", disse.
Na realidade, a despeito desse discurso, Saleh vem impondo limites rígidos às operações americanas em seu país, ao mesmo tempo em que ajudou a disfarçá-las como sendo suas.
Os telegramas do WikiLeaks oferecem a visão mais íntima do autocrata de 68 anos, astucioso, irreverente e, às vezes, errático, que lidera o Iêmen há 30 anos.
Quando aconteceram os dois primeiros ataques americanos com mísseis contra acampamentos da Al Qaeda no Iêmen, em dezembro de 2009, Saleh afirmou publicamente que tinham sido ataques iemenitas, visando evitar qualquer reação contrária antiamericana. O general David H. Petraeus viajou até o Iêmen para agradecê-lo.
Um vice-primeiro-ministro, Rashad al-Alimi, já tinha garantido aos americanos que "munições dos EUA nos locais" dos ataques "poderiam ser explicadas como sendo equipamentos comprados dos EUA".
Ademais, Alimi deu a entender que as autoridades iemenitas aceitavam como inevitável que os mísseis tivessem matado civis, juntamente com os militantes. Os mortos eram famílias beduínas -"pessoas pobres que vendem alimentos e suprimentos aos terroristas" e que "agem em conluio com terroristas e se beneficiam financeiramente disso", disse ele.
Mesmo asim, Saleh disse ao general Petraeus que "foram cometidos erros" nas mortes de civis. E rejeitou pedido de enviar assessores americanos para acompanhar operações de contraterrorismo iemenitas.
Por muito tempo quase ignorado pelos Estados Unidos, o Iêmen, hoje, atrai atenção americana de alto nível, muito desproporcional a seu tamanho. Em outubro, militantes no Iêmen enviaram cartuchos de impressoras recheados de explosivos a endereços em Chicago. As bombas foram interceptadas, mas a conspiração desencadeou um furor e levou ao mais recente telefonema de uma série de ligações entre o presidente Obama e seu colega iemenita sobre o contraterrorismo e a assistência.
Os telegramas mostram que, em alguns momentos, Saleh não hesitou em usar problemas graves do seu país como ameaça.
"Fazendo referência ao alto índice de pobreza e a fluxos ilícitos de armas para o Iêmen e a Somália, Saleh concluiu dizendo 'se vocês não ajudarem, este país se tornará pior que a Somália'", diz um telegrama de setembro de 2009 do embaixador americano, Stephen A. Seche, descrevendo Saleh como estando "em ótima forma".


Colaborou o repórter Andrew W. Lehren de Nova York


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