São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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DIÁRIO DE HUTT RIVER

Uma pequena nação

Por NORIMITSU ONISHI

PRINCIPADO DE HUTT RIVER, Austrália - "Algumas pessoas pensam que Hutt River é um país novo, mas recebo turistas alemães por aqui e me orgulho de lhes contar que Hutt River, na verdade, não é um país jovem.
"É um país bem antigo. A Alemanha acaba de comemorar seu 20° aniversário", disse Leonard Casley, referindo-se à Alemanha unificada, enquanto posa ao lado de um enorme busto dele mesmo, quase do seu tamanho. "Já comemoramos nosso 40° aniversário."
Atrás dele, dentro de uma estrutura de tijolo vermelho semelhante a um coreto, uma carta plastificada e emoldurada das autoridades fiscais para Casley diz que ele "foi considerado não residente da Austrália por motivos de imposto de renda". Como diz a placa ao lado dela, "Bem-vindo ao Principado de Hutt River".
Com 40 anos, Hutt River é a mais antiga micronação da Austrália, estendendo-se por 7.500 hectares de terra agrícola nesta fatia empoeirada e ventosa da Austrália Ocidental. Na época, irritado com uma cota sobre o trigo imposta pelo governo, Casley, hoje com 85 anos e ainda o líder, separou suas terras do restante da Austrália. A aparente secessão deu origem não apenas a este principado, mas, de acordo com a história de condenados da Austrália e o antigo desprezo popular pela autoridade central, também inspirou a proliferação de novas micronações por todo o país.
Nem o governo estadual nem o federal reconheceram Hutt River como uma nação soberana. Mas, ao longo de décadas, Casley, habilmente, utilizou leis bem conhecidas ou obscuras -a certa altura chegou a declarar guerra contra a Austrália- para manter as autoridades à distância. As autoridades fiscais não negaram a afirmação de Casley de que ele nunca pagou impostos sobre negócios realizados dentro de Hutt River. Mas Casley reconhece que pagou "presentes" anuais para o governo local. Além da agricultura a que ele e seus filhos se dedicam, Casley transformou Hutt River em uma atração visitada por milhares de turistas anualmente. Hoje em dia, ônibus carregados de mochileiros encontram o caminho pelas estradas de cascalho que levam à capital do país de Casley, que ele chama de Nain. Lá, os visitantes compram vistos e têm seus passaportes carimbados por ninguém menos que o próprio príncipe.
"Agora, você está legalmente no país", disse ele, carimbando um passaporte. "Vai partir hoje mesmo?" Mais tarde, Casley admite que não há hotel em Hutt River, com população de 20 habitantes.
Mas se apressa a acrescentar que 13 mil pessoas adquiriram cidadania em Hutt River, que permite a dupla cidadania.
Ao longo dos anos, Hutt River emitiu sua própria moeda e seus selos, com retratos de Casley e de sua mulher, Shirley. Como líderes do principado, Casley, conhecido como "Sua Majestade Príncipe Leonard I de Hutt", e a senhora Casley, "Sua Alteza Real Princesa Shirley de Hutt", também concederam títulos de cavaleiro a seus súditos leais. A quantos exatamente Casley não se lembra.
O filho mais velho de Casley está à espera como príncipe herdeiro, embora nenhum de seus filhos tenha demonstrado a determinação e a teatralidade do pai.


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