São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Tramas clássicas de ópera conquistam horário nobre da TV suíça

Por MATTHEW GUREWITSCH

No final de "La Bohème", conforme visualizado por Puccini na ópera, a frágil costureira Mimi morre na cama em um sótão com vista para os telhados de Paris. Na versão mostrada ao vivo na TV suíça em setembro, ela estava diante de um shopping center e embarcou num ônibus vazio. O ônibus se afastou, perseguido por algum tempo pelo amante de Mimi, Rodolfo, que acabou desistindo, desabando na calçada.
Saimir Pirgu, tenor albanês que cantou a parte de Rodolfo, descobriu que as lágrimas vieram naturalmente. "Quando aquela porta se fechou, não era a porta do ônibus, mas a porta da vida", disse Pirgu recentemente. "Todo o mundo chorou. Eu também. Nunca tinha sentido uma adrenalina tão forte."
"La Bohème im Hochhaus" ("La Bohème no Edifício") fez sucesso enorme e foi a terceira iniciativa da rede nacional suíça Schweizer Fernhersen para incluir a ópera no horário nobre da TV. A primeira ocorreu em março de 2007, com "A Flauta Mágica", em dois canais, unindo uma transmissão convencional da ópera de Mozart filmada no palco do Teatro de Ópera de Zurique, em um canal, com relatos simultâneos e ao vivo dos bastidores, em outro.
Em setembro do mesmo ano, foi feito um experimento mais radical, "Traviata im Hauptbahnhof", transmitido ao vivo desde a estação ferroviária central de Zurique. Espectadores que não saberiam diferenciar "Boris Godunov" de "Aída" ficaram grudados a seus televisores. Para ajudá-los, eram exibidas informações sobre a trama, à medida que ela se desenrolava.
O principal idealizador da série foi Thomas Beck. Como diretor de música e dança da TV suíça, ele tinha sido encarregado de produzir segmentos documentais pontuais de 45 a 90 minutos de duração para serem exibidos nas noites de domingo.
"Eu estava convencido de que mostrar ópera no horário nobre teria um potencial emocional tremendo", comentou Beck recentemente. "No caso de 'A Flauta Mágica', tínhamos a expectativa de conseguir 12% a 15% de audiência no primeiro canal e 5% a 8% no segundo. Jamais imaginamos que pudéssemos dobrar essas previsões." No caso dos espetáculos posteriores, a audiência chegou a entre 30% e 40%.
Já houve outras tentativas de "embalar" a ópera para o grande público. A encenação de épicos na arena romana de Verona, no verão, vem sendo feita há quase um século na Itália. De quando em quando uma ópera chega aos cinemas. Mas, como meio de comunicação de massas, a televisão ocupa uma posição singular.
Como já era esperado, houve gritos de indignação purista, mas não muitos. Para Pirgu, o que está sendo feito é "ópera para todos". "Se minha mãe fosse à ópera assistir a 'La Bohème', não entenderia -e ela é mãe de um tenor", disse ele. "Já isto ela entendeu perfeitamente."
E o que mais vem aí? Em Zurique, foi aventada a ideia de uma "Carmen no Centro da Cidade", ambientada em um bairro operário, com crianças locais participando do coro. Alexander Pereira, diretor do Teatro de Ópera de Zurique, não tem dúvidas de que a fórmula já ganhou aceitação. "Seria fácil encenar 'Aída' no zoológico ou 'O Barbeiro de Sevilha' em alguma cidade da Itália", disse. "Acho que esta série poderá ser levada adiante por muito tempo."


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