São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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LENTE

Mais respeito pelo trabalho manual

Muitas pessoas têm uma atitude negativa em relação ao trabalho manual. Na era da informação, as profissões de prestígio não requerem que seus praticantes sujem as mãos.
O impulso em direção ao processamento de dados, distanciando-se da produção de coisas concretas, vem de "uma visão do futuro em que nos afastamos da realidade material e flutuamos numa economia da informação pura", escreveu Matthew B. Crawford na "New York Times Magazine".
Mas a recessão lançou forte luz sobre o fato de que o caminho que nos afasta da realidade material não necessariamente conduz a uma utopia. Muitos "trabalhadores do conhecimento" voltam a cogitar a possibilidade de trabalhar com as mãos. Alguns vêm fazendo declarações políticas com seu trabalho, e outros se preparam para o pior numa economia funesta.
O objetivo é desenvolver habilidades que não possam ser terceirizadas. "Não é possível bater um prego pela internet", disse a Crawford o economista Alan Blinder, da Universidade Princeton, em Nova Jersey.
Tampouco é possível criar frangos pela internet, e essa é uma razão pela qual as granjas vêm atraindo trabalhadores jovens nos EUA e no Japão.
"Eu não tinha muito a perder e achei que precisava aprender a ganhar a vida por conta própria", disse ao "New York Times" o ex-profissional de informática Shinji Akimoto, 31. Ele faz parte do Pelotão de Trabalho Rural do governo japonês, que está treinando 2.400 jovens desempregados a trabalhar em fazendas.
Os novos trabalhadores agrários frequentemente têm motivações políticas. O estudante americano de biologia Alex Liebman, 19, está em seu terceiro estágio numa fazenda. "Não sei se conseguirei ter algum impacto sobre a pobreza na África ou mudar a política em Washington, mas na fazenda posso ver os frutos de meu trabalho", disse ao "New York Times". "Ao trabalhar no campo e colocar meus princípios em prática, estou tomando uma decisão política consciente."
No Paquistão, um grupo de estudantes universitários se reúne aos domingos para recolher lixo das ruas, trabalho normalmente relegado aos pobres sem instrução, segundo reportagem do "New York Times". Intitulado Cidadãos Responsáveis, o grupo espera dar um exemplo a seus vizinhos insatisfeitos. "Todo o mundo vive atribuindo a culpa ao governo, mas ninguém faz nada", disse um dos organizadores, Shoaib Ahmed, 21.
Alguns trabalhadores em setores econômicos problemáticos, como os bancos e a mídia, pensam em um "plano B" de carreira, ou pelo menos falam nisso. "O plano B geralmente oferece menos dinheiro e prestígio que o plano A, mas promete uma vida de trabalho mais manual e direto, menos estresse e mais realização", escreveu Alex Williams no "New York Times". Ele próprio experimentou três trabalhos desse tipo -massagista de cachorros, fabricante de chocolate e agricultor orgânico- e tirou algumas lições desse processo.
Williams descobriu que lidar com cachorros rebeldes e arrancar as entranhas sangrentas de frangos com as próprias mãos foram atividades que rapidamente perderam seu charme para ele. Romantizar uma vida de trabalho manual é bem mais fácil que vivê-la.
Mais e mais pessoas também estão descobrindo as armadilhas de fazer consertos e obras em suas próprias casas, segundo reportagem do "New York Times". A assistente judiciária aposentada Carol Taddei tentou instalar uma nova privada sozinha. Acabou com uma privada que vazava, um teto caído e uma conta de US$ 3.000 dos consertos.
Há muito a ser dito em favor de um novo olhar sobre o trabalho manual, mas há coisas que é melhor deixar a cargo dos profissionais.


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