São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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NOSSA FORMA DE COMER

Onde Clinton come, a sorte impera

Restaurantes do mundo inteiro disputam visita

Por DAVID SEGAL

Parece improvável, ao considerar que "junk food" é associado ao seu nome, mas poucas frases são mais lucrativas para restaurantes do mundo inteiro do que a seguinte: "Bill Clinton comeu aqui".
De alguma maneira, o 42° presidente dos EUA se tornou um juiz da comida fina internacional, conferindo importância ao restaurante só de aparecer nele. Clinton está na parte de culinária dos guias turísticos e em artigos de jornais sobre restaurantes com a prerrogativa de que um comilão pode apontar o que é bom.
Como exatamente Clinton se tornou o maior avaliador de pratos da Terra? Mais do que muitas celebridades, ele parece ser a pessoa que aprecia boa comida e, antes da cirurgia do coração, era conhecido por seu enorme apetite. É mais um vegetariano hoje em dia e, durante as viagens recentes para trabalhar em prol dos candidatos democratas, sua dieta incluía sopa de cevada, feijão preto e couve-flor, além do tempero de tomate para completar. Fora dos EUA, no entanto, é conhecido por não seguir dieta.
O apoio de celebridades fornece credibilidade aos restaurantes, e o aval de Clinton nos EUA possibilitou o crescimento de lugares como Il Mulino em Manhattan e Georgia Brown´s em Washington.
Mas, quando Clinton aparece em restaurante fora dos EUA, o impacto é ainda maior. Administradores e proprietários de Pequim a cidades da Islândia dizem que uma aparição do ex-presidente pode ser revolucionária, levando um restaurante desconhecido à fama completa, atingindo a galeria dos favoritos. Melhor ainda, esse reconhecimento pode durar anos.
"Nós tínhamos 25 pessoas da Suécia na noite passada", disse Detlef Obermuller, proprietário da Gugelhof, um restaurante de Berlim que recebeu Clinton e o chanceler Gerhard Schröder em 2000. "Eu perguntei a um deles, 'Como você sabia sobre esse lugar?' E ela retirou um jornal do seu bolso. Não consigo ler sueco, mas ela disse que a razão da escolha foi Bill Clinton ter comido aqui. E aquela refeição ocorreu uma década atrás."
Obermuller não esqueceu os detalhes daquela honrada visita. Ele e sua equipe conversaram por 20 minutos com a segurança alemã antes de Clinton chegar. Notícias do jantar se espalharam rapidamente pelo rádio e pela televisão, e, quando a sobremesa estava sendo servida, uma multidão de 2.000 pessoas estava na calçada para agradecer o homem que, certa vez, afirmou "Berlim está livre" durante discurso no Portão de Brandemburgo.
Quando Clinton saiu, jornalistas se espremeram na saída, pedindo declarações e detalhes do jantar. No meio do caos, todos os talheres, copos e pratos da mesa de Clinton desapareceram. Um dos repórteres pegou o pedido da mesa (o que incluía a refeição de Clinton: chucrute, bife, porco e tomates). No dia seguinte, um jornal alemão mostrou a imagem do pedido na capa.
Quando Clinton visita um restaurante, todos os que estão trabalhando sabem disso. Douglas Band, um assistente que viaja com Clinton e que respondeu as questões para este artigo, disse que seu chefe se apresenta para todos, o que inclui garçons e cozinheiros. Ele sempre posará para fotografias e assinará livros de convidados. Alguns dias depois, alguém da sua equipe manda um bilhete de agradecimento.
Clinton nunca pede para comer em um restaurante estrangeiro especial. Mesmo com a fama que possui, ele não se aproveita disso para comer. Na verdade, ele raramente escolhe os restaurantes. "Ele é tão ocupado e tem muito o que fazer. Escolher não é algo importante para ele", disse Band.
Normalmente, Band revelou, as ideias de refeição vêm de um membro do time de conselheiros de Clinton, responsável por consultar a equipe do hotel. Casualidade é o que conta para a escolha dos restaurantes internacionais pelos quais Clinton passa.
O ex-presidente ajudou uma barraca de hot dog em Reykjavik chamada Baejarins Beztu Pylsur a se tornar mundialmente conhecida. Ele parou para comer quando visitou a Islândia em 2004. Mas o ex-presidente quase não conseguiu se mover, tamanha a curiosidade das pessoas.
"Eu tenho essa senhora que está trabalhando para mim há mais de 30 anos. Quando ela vê o Clinton, grita para que pare e coma um dos seus hot dogs", disse Gudrun Kristmundottir, o dono da barraca. "E ele sempre come".
Em 2006, Baejarins Beztu Pylsur ("o melhor hot dog da cidade" em islandês) passou a fazer parte da lista publicada pelo jornal britânico "Guardian" das cinco melhores bancas para se comer na Europa. Sem dúvida que a parada de Clinton contou muito.
"É simplesmente inacreditável a atenção conferida", disse Kristmundottir. "Eu nunca entendi toda a bagunça gerada por um simples hot dog".


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