São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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ARTE & ESTILO

Taylor Swift e a vingança que vende

Romance noticiado nos tabloides inspira música

Por JON CARAMANICA

Em se tratando de vingança entre astros, dificilmente alguém conseguirá bater "Dear John", faixa do novo álbum de Taylor Swift.
Essa canção de seis minutos e meio, flagrantemente provocativa e profundamente desconfortável, fala de uma protagonista angustiada e violentada. "Não acha que eu era jovem demais para mexer comigo?", pergunta. "A menina de vestido/chorou no caminho inteiro até sua casa."
John Mayer, que segundo tabloides se envolveu com Swift neste ano, despertou essa ira e essa criatividade nela. Em vez de escrever uma música no seu habitual estilo country-pop, ela preferiu fazer um blues elétrico, numa clara cutucada em Mayer, mestre do gênero.
"Sinto que posso ser rebelde na minha música", afirmou Swift num tranquilo restaurante perto do seu apartamento em Nashville. "Posso dizer coisas que não diria na vida real. Não poderia montar uma frase do jeito que eu monto uma música."
Apesar dos olhos arregalados, Swift é difícil de ser perturbada. Às vezes, ela ainda é tratada como se fosse uma estrela infantil, mas completará 21 anos em dezembro. "Dear John" é de longe a faixa mais cáustica de "Speak Now", lançado no mês passado, mas o álbum como um todo é bem afiado. É o trabalho mais selvagem da sua carreira. Possivelmente, é o seu melhor.
No mundo cada vez mais diminuto da indústria fonográfica, em que as vendas de discos despencaram acima de 50% na última década, sucessos genuínos são uma espécie ameaçada. Mas, na primeira semana de novembro, o setor teve uma rara boa notícia com o triunfo absoluto de "Speak Now".
O álbum vendeu 1,047 milhão de cópias nos EUA na sua primeira semana, fazendo dele o disco de vendagem mais rápida nos últimos cinco anos.
Para muita gente do setor fonográfico, "Speak Now" prova que Swift transcendeu os limites do gênero e se tornou uma megaestrela pop. Mesmo aparentes reveses -como a explosão de Kanye West no MTV Video Music Awards do ano passado, quando ele sugeriu no palco que outra artista deveria ter recebido um prêmio dado a Swift- acabaram contribuindo com a sua celebridade.
Após vários dias de um estranho silêncio no seu Twitter, Swift escreveu aos seus 4,5 milhões de seguidores: "Não... posso... acreditar... nisso... Vocês absolutamente iluminaram o meu mundo. Obrigada".
"Speak Now" aborda muitos fatos públicos da vida de Swift nos últimos dois anos -seu conflito com West, as críticas à sua voz ao vivo, o relacionamento com o ator Taylor Lautner, o suposto caso com Mayer e outros.
"Vou ver sua vida nas fotos, como costumava ver você dormir", diz ela a um ex em "Last Kiss". Em "Better Than Revenge" (melhor que vingança), ela ferve de raiva por perder alguém para uma mulher predadora: "Ela é uma atriz,/mas é mais conhecida pelas coisas que faz sobre o colchão".
Se nas canções ela parece articulada, Swift admite que no dia a dia isso é mais difícil. "Posso dizê-las numa reunião profissional", afirmou, sobre seu modo direto de usar as palavras. "Mas, para mim, dizê-las a uma pessoa com quem realmente me importo de alguma maneira é um pouco mais difícil, porque não tem um primeiro verso, um segundo verso e uma ponte."
Swift acredita no valor da última palavra; ela é muito melhor de monólogo do que de diálogo. E, mesmo assim, seus novos adversários são celebridades que querem contar suas histórias e, provavelmente, vão contar.
No Video Music Awards 2010, em setembro passado, West conseguiu novamente roubar a narrativa de Swift. No meio do show, ela cantou "Innocent", que é sobre o incidente com ele, mas ele fechou a apresentação com "Runaway", que celebra e ironiza a sua ignorância. A graça dele venceu a sobriedade dela.
E esse é, provavelmente, só o começo. Certamente, algo de alto e bom som pode ser esperado por parte do desbocado Mayer, possivelmente já trabalhando numa resposta a "Dear John". Questionada sobre isso, Swift pareceu preocupada. "O que eu faço agora?", disse, franzindo a sobrancelha, mas só por um segundo. "Eu não havia pensado nisso."


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