São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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DIÁRIO DE KALLNACH

Como roqueiro escandaloso dos EUA virou marca de absinto na Suíça

Por JOHN TAGLIABUE

KALLNACH, Suíça - Pouca gente nesta tranquila aldeia suíça de chalés conhece o disco "Eat Me, Drink Me", do escandaloso roqueiro Marilyn Manson. Mas quase todos sabem do seu gosto por absinto.
Dificilmente poderia haver maior contraste do que entre Manson, o "bad boy" americano que abriu uma era dourada para o grotesco nos palcos, e as 1.500 pessoas que levam vidas pacatas em casas rurais espalhadas pela rua principal de Kallnach, cujos beirais quase tocam o chão.
"Eles são completamente diferentes", afirmou Beat Läderach, 47, que há 17 anos é o administrador do povoado. Mesmo assim, o vínculo de Manson com o lugar "é importante para nós", segundo Läderach. O nome Kallnach se tornou conhecido, disse ele, graças ao sucesso do absinto tipo "superpremium" desenvolvido em conjunto com Manson.
A associação começou em 2005, depois que a Suíça, seguindo o exemplo dos Estados Unidos e de muitos países europeus, legalizou a produção de absinto.
O homem que ressuscitou o absinto em Kallnach é Oliver Matter. Em 2004, apenas dois meses antes de o absinto ser legalizado por um referendo nacional na Suíça, ele voltou seus alambiques, grandes esferas de cobre instaladas num galpão nos arredores da vila, para a produção da bebida.
Dias depois de iniciar a produção, foi procurado por distribuidores interessados em vender absinto para grandes mercados, como Reino Unido, França e Estados Unidos, onde a bebida rapidamente virava febre.
Um desses distribuidores era Markus Lion, 41, empresário do sul da Alemanha que procurava absinto de qualidade para um cliente específico, Marilyn Manson, cujo agente era amigo de Lion. "O absinto estava virando um assunto, e Manson era considerado um 'connoisseur' da bebida."
Após um show na Basileia, cidade suíça a nordeste de Kallnach, Lion conheceu Manson e descobriu que eles tinham amigos e gostos em comum, inclusive o absinto. Concordaram em produzir uma marca especial, que seria chamada Mansinthe, na destilaria de Matter.
Após vários testes de destilação, o Mansinthe foi lançado em meados de 2006, a cerca de US$ 65 a garrafa de 710ml. As vendas dispararam até o final daquele ano, ultrapassando o quádruplo do total de absinto que Matter vendera no ano anterior. Agora, o absinto representa cerca de metade do seu faturamento anual de US$ 1,3 milhão.
Logo o nome de Manson estava na boca do povo de Kallnach. Agora Fritz Meyer, 68, expõe Mansinthe nas prateleiras da sua mercearia, na rua principal do povoado, ao lado de garrafas de uísque Jack Daniel's e licor Baileys. E vende salsichas com sabor de absinto. "São muito populares", disse.
O Mansinthe, segundo Lion, "deu um verdadeiro impulso ao mundo do absinto".
Matter se disse surpreso com a boa aceitação da aldeia a Manson, embora ele nunca tenha visitado o lugar. "Curiosamente, ninguém nunca chegou para nós e disse: 'Por que vocês estão fazendo isso?'."


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