São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Empresa lucra salvando vidas de pessoas pobres

Por DONALD G. McNEIL Jr.
Há muitas organizações beneficentes, fundações e entidades públicas que se dedicam a ajudar os pobres do mundo. Mas são raras as empresas privadas que têm isso como foco único. E mesmo a mais conhecida delas está muito longe de ter seu nome conhecido pelo grande público. Trata-se da Vestergaard-Frandsen.
Seus produtos são usados em campos de refugiados e zonas de desastre em todo o Terceiro Mundo: o PermaNet, um mosquiteiro impregnado de inseticida, o ZeroFly, uma lona para tendas que mata moscas, e o LifeStraw, um filtro que torna água imunda segura para o consumo humano.
"A Vestergaard vê o usuário final como consumidor, não como paciente ou vítima", disse Kevin Starace, assessor sobre malária junto à Fundação Nações Unidas.
Aberta há 51 anos na Dinamarca para produzir uniformes de trabalho, a companhia hoje é dirigida por Mikkel Vestergaard-Frandsen, neto de seu fundador.
Depois de concluir o colégio, em 1991, ele viajou como mochileiro pela Índia e a África. No Egito, conheceu dois nigerianos que lhe disseram que, no país deles, ele poderia ganhar dinheiro importando carros de segunda mão da Europa.
"Aos 19 anos, você não tem um plano econômico na cabeça", comentou Vestergaard-Frandsen. "Então fui vender carros, ônibus e motores de caminhões."
Mas o caos deixado pelo golpe de Estado nigeriano, em 1993, o fez voltar à Dinamarca. Enquanto isso, seu pai, Torben, tinha comprado 1 milhão de metros de tecido de lã cinza-oliva dos armazéns da Defesa Civil sueca.
"O tecido era para uniformes militares", disse Vestergaard-Frandsen, pai. "Era uma lã de alta qualidade, muito cara, mas tão feia que nenhuma dona-de-casa ia querer vê-la forrando seu sofá."
Mikkel foi para uma mesa nos fundos da fábrica e começou a trabalhar no passo seguinte: cortar o tecido na forma de cobertores e vendê-lo à Cruz Vermelha. Boa parte dos cobertores, disse ele, terminou em Ruanda e no Curdistão.
Enquanto isso, o negócio principal da empresa enfrentava concorrência asiática, e tanto ele quanto seu pai achavam mais interessante trabalhar com ajuda emergencial. Em 1998, viraram fornecedores do Centro Carter, fundado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter (1977-81) e que liderava o esforço global para eliminar o verme filária. As filárias começam como larvas microscópicas, mas, ao serem engolidas por pessoas, emergem um ano depois como vermes de um metro de comprimento que saem de feridas ácidas, provocando dor excruciante.
O centro precisava de filtros finos, para impedir a passagem das larvas, mas fortes o suficiente para poderem ser esticados sobre um jarro de água. A Vestergaard produziu quadrados de filtros de náilon reforçado com lona.
A empresa também recriou uma ideia que o diretor do programa de combate à filária, Ernesto Ruiz-Tiben, teve ao observar nômades tuaregues no Mali: embutir o filtro num canudo de plástico, para que o usuário possa se deitar e beber a água de qualquer poça.
Esse canudinho foi a inspiração do LifeStraw, um cilindro de plástico de 25 centímetros que filtra ou mata bactérias, parasitas e alguns vírus e pode ser produzido por menos de US$ 3.
Mikkel contou que a Vestergaard-Frandsen já vendeu 165 milhões de mosquiteiros e está auferindo lucros.
"Poucas empresas adotam a atitude de que fazer o bem reverte em dinheiro", disse. "Mas não duvide: assim que provarmos que esta é uma boa ideia, outras empresas virão atrás."


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