São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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Estatais estimulam boom imobiliário na China

Por DAVID BARBOZA

WUHU, China - A Corporação Anhui da Indústria do Sal é uma estatal que tem 11 mil empregados, acesso às minas de sal do governo e um chefe que pertence ao Partido Comunista.
Agora, ela entrou com força em uma nova linha de negócios: os imobiliários.
A empresa está erguendo em Wuhu um complexo de edifícios de luxo chamado Platinum Bay, em um terreno que comprou no ano passado depois de vencer, em leilão, duas outras construtoras interessadas.
Em todo o país, grandes grupos estatais dos setores petrolífero, químico, militar, de telecomunicações e rodoviário estão elevando os preços oferecidos por grandes terrenos, para ali desenvolver grandes projetos imobiliários que não guardam relação com suas áreas principais de atuação.
"São as empresas que têm dinheiro para comprar a terra", diz o professor Deng Yongheng, da Universidade Nacional em Cingapura. "Porque, na China, é o governo que controla o fluxo e o gasto de dinheiro."
Ao elevar os preços dos terrenos, as estatais, que em última análise são controladas pelo governo, estão trabalhando em sentido contrário ao esforço de Pequim para impedir que o boom imobiliário chinês se converta em bolha especulativa movida por dívidas, como aquela que devastou os mercados financeiros ocidentais em 2008.
Registros imobiliários mostram que 82% dos leilões de terrenos em Pequim neste ano foram vencidos por grandes estatais que fizeram lances maiores que os de construtoras privadas. Em 2008, essa parcela fora de 59%.
Críticos afirmam que Pequim impeliu a corrida à terra não intencionalmente, em 2009, quando aprovou um enorme pacote de estímulo econômico de US$ 586 bilhões e incentivou os bancos estatais a conceder mais crédito.
E, à medida que sobem os preços de apartamentos novos -em Xangai, por exemplo, muitas vezes passam de US$ 200 mil, sendo que a renda disponível média é de aproximadamente US$ 4.000 ao ano-, a tendência também ameaça prejudicar a meta do governo de providenciar habitação a preços acessíveis à classe média ascendente.
Tudo isso vem prejudicando as construtoras privadas, que dominaram o mercado imobiliário chinês por mais de uma década, mas hoje se sentem sufocadas em um mercado que favorece construtoras que contam com financiamento estatal.
"É um pouco como um filho que pede dinheiro emprestado da sua mãe", diz Yang Shaofeng, diretor da Agência Imobiliária Conworld, em Pequim.
No ano passado, os bancos estatais tiveram lucro recorde de US$ 1,4 trilhão sobre seus empréstimos -quase o dobro do valor do ano anterior.
Analistas acreditam que boa parte desse dinheiro teria sido desviada ao mercado imobiliário por meio de manobras que não constam das folhas de balanço, levando a ofertas de valores recordes por terrenos e à alta vertiginosa dos preços destes. Essa visão intensifica receios de que alguns dos maiores bancos estatais chineses possam ter uma dívida não reportada enorme.
Em Wuhu, cidade industrial a cerca de 110 km a oeste de Nanquim, a Anhui Salt está iniciando a construção de seu complexo de edifícios no centro da cidade, ao lado de um hotel operado pela Anhui Conch Holdings. O terreno foi posto em leilão em maio de 2009 e houve apenas três interessados, um dos quais também era uma estatal.
O gerente de marketing da Anhui, Su Chuanbo, disse que o governo encorajou as estatais a serem mais rentáveis e que o mercado imobiliário é incrivelmente rentável. Assim, disse, é na verdade o governo que está por trás da investida da Anhui no setor imobiliário.
"Embora muitas estatais sejam proibidas de atuar no setor imobiliário", disse Su, "estatais locais como a Anhui Salt ainda podem desenvolver projetos, dentro de limites. A situação é a mesma em toda a China".


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