São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Aeroflot livra-se do legado soviético e opta por uma frota ocidental

A Aeroflot está vendendo os jatos russos Tu-154, que queimam combustível demais

Por ANDREW E. KRAMER

MOSCOU - Os símbolos da Aeroflot ainda são o martelo e a foice alados, mas, fora isso, a antiga companhia aérea comunista praticamente se livrou de seu passado soviético. A mais forte evidência disso é que até o fim do ano ela terá uma frota quase totalmente fabricada em EUA e Europa ocidental.
A Aeroflot está vendendo todos os seus jatos Tupolev, o avião de passageiros "pé-de-boi" do antigo bloco oriental. Quando eles tiverem partido, somente 6 de cerca de 100 jatos da frota da Aeroflot serão de fabricação russa, os Il-96. Estes voarão somente na Rússia e em algumas rotas internacionais, como Moscou-Havana e Moscou-Hanói.
O fato de a Aeroflot utilizar quase exclusivamente jatos Boeing e Airbus é uma virada notável para uma empresa que já possuiu virtualmente todos os aviões civis da antiga União Soviética. Mas a companhia aérea tenta se reinventar como empresa comercial, e seus passageiros em geral preferem aviões ocidentais.
Embora especialistas digam que os aviões russos são bem construídos, a manutenção deficiente lhes trouxe má reputação de segurança depois do colapso soviético. E, dizem os passageiros, eles também são ruidosos e apertados.
"Eu olho para todos os parafusos e porcas e me pergunto se algum está frouxo; fico preocupada", disse Anastasia A. Tkachova, estudante que viajou recentemente de Moscou a Londres pela Aeroflot.
"É mais confortável voar em um Airbus", disse outro passageiro, Mikhail Kotlyarov. Mas ele acrescentou rapidamente, com um pouco de tristeza: "A Rússia ficará sem seus próprios aviões".
Não exatamente. Na verdade, apesar da medida da Aeroflot, a indústria de jatos domésticos da Rússia parece estar fazendo um retorno improvável.
O excessivo consumo de combustível dos aviões russos os condenou para a Aeroflot. O executivo-chefe da companhia, Vitaly Savelyev, disse que a empresa estava perdendo dinheiro em cerca de 40% de suas rotas e que teria de demitir quase 6.000 trabalhadores nos próximos dois ou três anos, segundo noticiou recentemente o jornal econômico "Vedomosti".
Ao longo de sua história, é claro, a Aeroflot teve inúmeros problemas. São muitos os casos de horror, embora estatisticamente voar fosse tão seguro quanto no Ocidente, até uma série de quedas recentes de jatos ocidentais e russos, atribuídas principalmente a erros dos pilotos.
Irina Danenberg, porta-voz da Aeroflot, disse que a empresa está vendendo seus jatos Tu-154 porque eles queimam combustível demais em comparação com os aviões ocidentais, e não por preocupações de segurança.
O legado soviético é "irrelevante" hoje, disse Nikolai Kovarsky, consultor de uma empresa sediada em Moscou, sobre a Aeroflot. "Eles são extremamente simpáticos e profissionais. O serviço é impecável. E são russos."
O setor aeroespacial está entre os poucos competitivos da economia russa, além do petróleo. A ausência de aviões modernos não é um reflexo da situação atual da indústria, mas da crise pós-colapso da década de 1990 -o tempo de maturação dos novos desenhos de aviões é longo.
Boris Bychkov, da consultoria de aviação Airclaims, disse que o desaparecimento dos Tupolevs da frota da Aeroflot não deve ser visto como um "golpe para a imagem" dos fabricantes de aviões russos. "Ainda temos excelentes jatos de combate", disse.


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