São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Distribuição de óculos lança novo olhar para a luta contra a pobreza

Por DOUGLAS HEINGARTNER

VEGHEL, Holanda - Fornecer óculos aos pobres pode ser um dos investimentos mais valiosos no mundo em desenvolvimento. Centenas de milhões de pessoas -há quem estime em até 2 bilhões-não têm lentes corretivas que lhes permitam levar vidas melhores e mais produtivas.
Um estudo publicado em junho numa revista da Organização Mundial da Saúde estimou em US$ 269 bilhões por ano o custo em produtividade perdida por causa de problemas de visão. Além do mais, combatê-los precocemente pode evitar a cegueira no futuro.
Agora há esforços para distribuir óculos baratos em grande escala. Uma tecnologia promissora é a dos óculos autoajustáveis, em que usuários destreinados acertam o foco sozinhos em menos de um minuto, reduzindo muito a necessidade de oftalmologistas, que são raros na África e em muitas partes da Ásia.
Embora esses óculos ajustáveis ainda não sirvam para problemas como o astigmatismo, pelo menos 80% dos erros refrativos podem ser corrigidos.
Ao menos três entidades já estão oferecendo suas próprias versões de óculos ajustáveis de baixo custo. Duas delas são da Holanda. A terceira, com sede no Reino Unido, promove a invenção britânica chamada AdSpecs e há mais de dez anos atrai o interesse da mídia.
O AdSpecs, que permite o ajuste por meio de um fluido claro injetado nas lentes, foi desenvolvido por Joshua Silver, professor de física da Universidade de Oxford. Desde que lançou os óculos, em 1996, Silver estabeleceu a ambiciosa meta de distribuir 1 bilhão de pares até 2020. Até agora, no entanto, foram distribuídos só cerca de 30 mil, ao custo aproximado de US$ 19 o par.
Um dos grupos holandeses, a Fundação Foco na Visão, diz ser capaz de produzir seus óculos Focusspec a cerca de US$ 4 o par. Os fundadores dizem que o preço cairá substancialmente quando os óculos forem fabricados em maior volume.
Eles pretendem distribuir cerca de 30 mil pares no começo deste ano, inicialmente no Afeganistão, em Gana e na Tanzânia. A outra oferta holandesa, chamada U-Specs (de "universal spectacles", ou óculos universais), é promovida pelo Centro Médico da Universidade VU, em Amsterdã.
Ambos os modelos holandeses se baseiam num projeto explorado ainda na década de 1960 pelo norte-americano Luis W. Alvarez, ganhador do Prêmio Nobel de Física. Eles usam duas lentes que deslizam uma sobre a outra para alterar o foco. Os U-Specs foram desenvolvidos inicialmente em 2003 por Rob van der Heijde, físico da Universidade VU.
Frederik van Asbeck, ex-aluno de Van der Heijde, começou a desenvolver o Focusspec por contra própria em 2005. Embora os grupos holandeses tenham tido contato esporádico, eles não trabalham juntos. "Eu os vejo como bons amigos", disse Silver, inventor do AdSpecs. "Não somos concorrentes."
Segundo ele, todos concordam que o mundo em desenvolvimento precisa de "um design de baixo custo que possa ser produzido em alta escala" e admitem que "nenhum dos empreendimentos por aí hoje consegue fazer isso sozinho".


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