São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2011

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DIÁRIO DA CIDADE DO MÉXICO

Beijos como indicador econômico

Por DAMIEN CAVE

CIDADE DO MÉXICO - Armando Ruiz e Verónica Villafuerte se abraçavam com força e trocavam carinhos, deitados em banco no meio de calçadão movimentado na Cidade do México. Crianças brincavam à sua volta. Carros passavam. Ninguém prestava atenção a eles.
"Hoje em dia há mais abertura", disse Ruiz.
A Cidade do México tem sido lugar de formalidades, de camisas de mangas longas, e não de saias justas. Manifestações públicas de sexualidade sempre foram motivo de vergonha.
No entanto, a despeito dessa reserva -ou em função dela-, as manifestações públicas de afeto estão, cada vez mais, tornando-se símbolo do que especialistas descrevem como uma cidade que está aprendendo a se descontrair. Hoje, autoridades governamentais mexicanas se gabam de ter algumas das leis mais liberais da América Latina com relação ao aborto e ao casamento homossexual. Enquanto isso, sex shops podem ser encontradas até mesmo nos bairros de alto padrão, e, no mês passado, a Cidade do México abrigou festival de entretenimento sexual que durou cinco dias e atraiu 120 mil pessoas.
Mas, se é fato que o constrangimento e a vergonha diminuíram, por que isso está acontecendo agora? A resposta parece depender do México que enxergamos: o romântico ou o deprimente.
Os demógrafos -otimistas- enxergam vínculos entre o namoro e a economia. Vários estudos já mostraram que, em comparação com uma geração atrás, os mexicanos estão fazendo mais sexo em idade mais jovem, uma tendência que, de modo geral, acompanha a expansão econômica do país.
Sexo e afeto, argumentam demógrafos mexicanos, tendem a ser sinais de confiança, expressões da crença na existência de oportunidades pela frente.
Salários e cultura também estão interligados. O crescimento econômico mexicano criou uma classe média maior que, além de promover a abertura do processo político do país, aumentou o acesso à tecnologia e à mídia internacional. "As pessoas veem tudo na TV ou na internet, então já não acham que são as únicas que estão fazendo", explicou Perelman.
E, nas palavras de Armando Ruiz, "a gente já não se preocupa muito com o que os outros podem pensar". Outros casais, contudo, descreveram a manifestação pública de afeto em termos mais sombrios. O crescimento econômico positivo vem acontecendo par a par com a crescente guerra aos cartéis do narcotráfico, que já causou 34 mil mortes desde 2006.
Paulina Pérez, 26, estava andando de skate no bairro elegante de Polanco e fez uma pausa, sentando-se no colo de seu namorado. Ela disse que os mexicanos sempre distinguiram relacionamentos formais dos relacionamentos com pessoas que fazem parte de seu "círculo de confiança". Beijos, abraços e manifestações de carinho caracterizam os segundos, enquanto os primeiros são assinalados por apertos de mão e distância polida.
Ao mesmo tempo em que a violência das drogas deixou os mexicanos com mais medo de estranhos, ela intensificou os laços mais estreitos, disse Pérez.
"O afeto é maneira de esquecer (a violência)", explicou. "Você esquece problemas e vive."
Seu namorado concordou, dando um tapinha no traseiro dela.


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