São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2011

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Cirurgia plástica feita conforme a cultura

Por SAM DOLNICK

Em clínica de cirurgia plástica de Upper Manhattan cuja clientela é formada em boa parte por dominicanos, um dos procedimentos mais procurados é a cirurgia para levantar nádegas de mulheres, pois, segundo o médico, "elas gostam de ter curvas acentuadas".
Em Queens, cirurgiões plásticos, geralmente, voltam sua atenção para um ponto mais alto: os narizes arrebitados que seus pacientes chineses querem que sejam modificados para que sejam voltados mais para baixo.
À medida que a demanda por cirurgia plástica cresce no mundo, Nova York passou a ter mercados de nicho nos quais os imigrantes da cidade podem ser submetidos a modificações que se enquadram nos ideais de beleza de suas respectivas culturas.
Ao mesmo tempo em que essas clínicas especializadas mudam o formato das pálpebras de asiáticos e as silhuetas de clientes de origem latina, elas oferecem uma visão de perto das aspirações e inseguranças de imigrantes residentes na Nova York do século 21 -um retrato feito de um mosaico aprimorado com Botox.
"Quando recebemos paciente de determinada origem étnica e faixa etária, já sabemos o que ele procura", contou Kaveh Alizadeh, presidente do Grupo Long Island de Cirurgia Plástica, que tem três clínicas na cidade.
A dominicana Italia Vigniero, 27, é paciente do cirurgião Jeffrey S. Yager em Washington Heights, bairro de maioria dominicana. Vigniero fez cirurgia de implantes nos seios em 2008 e agora estuda fazer o mesmo nas nádegas para conquistar "a silhueta de uma mulher". "Nós, latinas, nos definimos por nossos corpos", disse ela. "Sempre temos curvas."
Em um bairro de Queens que tem grande população de imigrantes asiáticos, o médico Steve Lee, natural de Taiwan, contou que chineses acreditam que ter lóbulos de orelha grandes traz boa sorte. Assim, Lee não ficou surpreso quando um cliente lhe pediu uma injeção de um produto cosmético em seus lóbulos de orelha, para deixá-los mais longos.
Outros pacientes pedem que seus narizes arrebitados sejam operados "para ficarem voltados para baixo", contou Lee, devido à crença tradicional de que narinas grandes deixam que a fortuna da pessoa se derrame para fora.
O procedimento mais procurado entre os asiáticos é a chamada "cirurgia de pálpebra dupla", para criar dobra nas pálpebras, deixando os olhos mais redondos.
Kaveh Alizadeh, imigrante vindo do Irã, admite que os resultados podem não parecer científicos, mas perpetuadores de estereótipos. Mas ele e outros médicos que trabalham em comunidades étnicas afirmam poder identificar tendências inconfundíveis: muitos egípcios fazem lifting facial. Muitas italianas fazem cirurgias para mudar o formato de seus joelhos. Alizadeh conta que os iranianos procuram especialmente as cirurgias de nariz.
E não há dúvidas quanto ao aumento da demanda por cirurgias plásticas em bairros de imigrantes. As motivações dos pacientes parecem ser tão variadas quanto os procedimentos solicitados. Em lugar de tentar se enquadrar em seu novo país, muitos imigrantes buscam cirurgias plásticas para adequá-los aos gostos e às tendências dos seus países de origem.
A despeito de todas as diferenças culturais, contudo, os cirurgiões plásticos de Nova York reconhecem que os bairros étnicos não são ilhas. A cultura americana exerce influência forte, dizem. Em Bay Ridge, no Brooklyn, a cirurgiã imigrante russa Elena Ocher atribui à cultura americana, não à russa, o fato de tantas jovens russas estarem procurando colocar implantes nos seios.
Ocher disse que observou que as italianas tendem a preocupar-se mais com seus joelhos. "Os joelhos precisam ter aparência jovem", disse ela. "As italianas gostam de usar minissaia."


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