São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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Pelo ouro, indonésios arriscam suas vidas

Por NORIMITSU ONISHI
SEKOTONG, Indonésia - Em uma montanha verdejante e quase intocada, uma mancha de lonas amarelas e azuis se destaca de forma incongruente perto do topo, o sinal inconfundível de uma mina de ouro ilegal. O caminho que leva até lá, recém-aberto entre o mato espesso e marcado com pedras, sugere que a mina é nova.
Mulheres com sacos de 23 quilos de rochas sobre a cabeça se arrastam na descida, carregando os volumes até uma aldeia próxima onde as rochas serão trituradas com o uso da mão e da máquina e misturadas com água e mercúrio, em busca de partículas de ouro. Na mina, descoberta uma semana antes, homens estavam agachados na encosta íngreme, cavando logo abaixo da superfície e enchendo sacos de pedras.
Embaixo da lona, homens se revezavam cavando mais fundo na rocha. Um homem se esgueirou um metro e meio por um buraco, segurando uma talhadeira com a mão esquerda enluvada e uma marreta com a mão direita nua. Uma rocha enorme foi equilibrada precariamente sobre o poço, mantida por dois galhos serrados. "Se não colocássemos esses galhos aí, o poço desmoronaria", disse o homem no poço, Jumaah, enquanto olhava para cima sorrindo, o rosto brilhando de suor.
Um ex-agricultor que, como muitos indonésios, usa apenas um nome, Jumaah, 45, é um dos homens que buscam fortuna na corrida do ouro que tomou conta desta região no leste da Indonésia. Com os preços do ouro chegando perto do recorde, as minas ilegais começaram a florescer três anos atrás na ilha de Lombok, mais conhecida no exterior como um destino turístico. Em recantos pobres de Lombok, como Sekotong, a descoberta de alguns gramas de ouro permitiu que famílias trocassem suas choças de palha por casas de cimento.
Mas, com pouca experiência em mineração e poucas ferramentas, centenas teriam morrido cavando minas ilegais. As autoridades também temem as consequências em longo prazo, pois os garimpeiros usam mercúrio para extrair o metal precioso e liberam o resíduo no meio ambiente.
"Sabemos que essa é a causa da minamata", a doença da intoxicação por mercúrio, disse Ispan Junaidi, um porta-voz do governo de Lombok Ocidental, que inclui Sekotong. As autoridades tentaram fechar as operações ilegais, que reabrem assim que a polícia deixa uma área, disse Ispan. Por isso, é impossível determinar quantos morreram em minas que desabaram e em deslizamentos de rochas, ele acrescentou. Temendo que as minas sejam fechadas, os garimpeiros não relatam as mortes.
As mineradoras começaram a prospectar ouro em Lombok no final dos anos 1990.
O ouro há muito tempo é garimpado em outros pontos da Indonésia, que é um dos maiores produtores mundiais do metal. Mas foi somente cerca de três anos atrás, depois que o preço do ouro aumentou acentuadamente no final de 2007 e 2008, que a corrida do ouro ilegal começou aqui.
Logo, milhares de pessoas de toda Lombok e até de mais longe procuravam Sekotong, enquanto corriam histórias sobre garimpeiros que encontraram pepitas que mudaram suas vidas. A indústria florescente se concentrou em Sekarbela, que tem uma longa história de joalheiros que serviram ao reino histórico da ilha.
Em uma tarde, vendedores de ouro enchiam a loja de propriedade de Maksud, 39, o maior comprador de ouro de Sekarbela. Ele comprava as pepitas de 24 quilates por cerca de US$ 45 o grama, ganhando, segundo ele, uma comissão de 2% a 5%.
Nas ruas laterais de Sekarbela, máquinas de triturar rochas em forma de cilindro fazem muito barulho nos quintais. Farid, 31, tinha oito máquinas no terreno de sua família, além de 400 sacos de 23 quilos de rochas esperando para ser trituradas. Até agora, ele extraiu cerca de 71 gramas de ouro, no valor de mais de US$ 3 mil a preços de hoje, de 150 sacos. Um joalheiro, ele começou a garimpar em Sekotong três anos atrás, mas agora compra centenas de sacos para processar.
Seu irmão, Oji, 28, também está trabalhando no ouro. "Eu acho que o preço do ouro nunca vai cair", ele disse, repetindo um sentimento generalizado aqui. "Eu li na web que o preço do ouro vai continuar subindo para sempre."
Em Mendorot, um garimpeiro, Marsiah, 33, e sua mulher, Musniwati, 30, disseram que estão um pouco preocupados. A competição está se acirrando, já que a corrida do ouro atrai recém-chegados diariamente. Fases de má sorte podem levar os garimpeiros à falência. E há sempre o risco de não sair de um poço.
"Existe um ditado aqui", disse Marsiah. "Se você quer ficar rico, vá procurar ouro. Se você quer ficar pobre, vá procurar ouro. E se você quer morrer, vá procurar ouro."


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