São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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Cientistas registram os traços da memória contextual

Por BENEDICT CAREY
Pesquisadores sabem há muito tempo que o cérebro interliga toda espécie de dados novos, quer estejam relacionados ou não, desde que tenham sido aprendidos mais ou menos na mesma época. Assim como o sabor de um biscoito pode desencadear uma enxurrada de memórias da infância, como em Proust, uma lição de casa de história recordada posteriormente pode trazer à mente um problema de matemática -ou uma sobremesa nova- da mesma noite.
Pela primeira vez, cientistas registraram traços no cérebro dessa espécie de memória contextual. Os registros, obtidos dos cérebros de pessoas que aguardavam cirurgia para epilepsia, sugerem que novas memórias de fatos, mesmo que abstratos, são codificados em uma sequência de disparos de células cerebrais que também contém informações sobre o que mais estava acontecendo durante e logo antes de aquela memória ser formada.
O novo estudo sugere que a memória é como um vídeo que é transmitido constantemente e tem marcas que assinalam fatos, cenas, personagens e pensamentos. "É uma demonstração da ideia bacana de que temos resquícios de pensamentos anteriores presentes em nossa cabeça e que 'colamos' a representação do que acontece agora aos resquícios tênues daqueles pensamentos passados", disse Ken Norman, neurocientista da Universidade Princeton, em Nova Jersey.
No novo estudo, publicado no periódico "PNAS", médicos da Universidade da Pensilvânia e da Universidade Vanderbilt, no Tennessee, usaram registros feitos com eletrodos minúsculos implantados nos cérebros de 69 pessoas com epilepsia grave.
Os pacientes realizaram uma tarefa simples de memória. Assistiram ao aparecimento de substantivos em uma tela e, depois de terem sua atenção distraída, recordaram o maior número de palavras que conseguiram, em qualquer ordem. Testes repetidos demonstraram um efeito previsível: os participantes tenderam a recordar as palavras em grupos, começando com uma e recordando as imediatamente anteriores ou posteriores.
Usando os registros dos eletrodos, os pesquisadores procuraram um padrão de disparo neural que tivesse uma assinatura muito singular: ele era atualizado continuamente. Eles encontraram um sinal forte no lobo temporal do cérebro. Quando os participantes se recordavam de uma palavra -por exemplo, "gato"-, o padrão nessa região parecia idêntico ao momento em que a palavra "gato" tinha sido vista originalmente.
O padrão era ligeiramente diferente quando os participantes se lembravam das palavras imediatamente anteriores ou posteriores a "gato". "Demonstramos que a palavra anterior a 'gato' -digamos que tenha sido 'árvore'- coloriu ou influenciou a codificação de 'gato', assim como 'gato' influenciou a codificação da seguinte", disse Michael J. Kahana, neurocientista da Universidade da Pensilvânia e um dos autores do artigo.


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