São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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Fraudes atrapalham ascensão chinesa

Plágios e representações prejudicam a China

Por ANDREW JACOBS
PEQUIM - Acadêmicos na China e no exterior dizem que casos de desonestidade entre pesquisadores e acadêmicos estão prejudicando o potencial da China e a colaboração entre estudiosos chineses e seus colegas internacionais.
Duas revelações chamaram a atenção. Depois de um desastre aéreo em agosto ter resultado na morte de 42 pessoas no nordeste, as autoridades descobriram que cem pilotos que trabalhavam para a empresa-mãe da companhia aérea haviam falsificado seus históricos de aviação.
E houve o caso do currículo exagerado de Tang Jun, milionário ex-presidente da Microsoft China e uma espécie de herói nacional, que alegou falsamente ter obtido um doutorado do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
"Se não mudarmos, seremos excluídos da comunidade acadêmica", disse Zhang Ming, professor de relações internacionais na Universidade Renmin, em Pequim.
As pressões exercidas por universidades estatais sobre acadêmicos para que ganhem citações em periódicos especializados vêm gerando uma onda de pesquisas falsificadas ou plagiadas. Em dezembro, um periódico britânico anunciou a anulação de mais de 70 artigos de autores chineses.
O periódico médico britânico "The Lancet" avisou em editorial que pesquisas falsificadas ou plagiadas representam uma ameaça à promessa do presidente Hu Jintao de converter a China em "superpotência das pesquisas" até 2020. "Está claro que o governo precisa aproveitar o episódio para reforçar os padrões do ensino de ética nas pesquisas e na condução das próprias pesquisas".
Em um estudo recente do governo, um terço dos 6.000 cientistas entrevistados, vinculados a seis das maiores instituições chinesas, admitiram ter praticado plágio ou falsificação de dados de pesquisas. Em outro estudo feito no ano passado pela Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia com mais de 32 mil cientistas, mais de 55% dos entrevistados disseram ter conhecimento de alguém que é culpado de fraude acadêmica.
Fang Shimin, escritor que tornou-se defensor conhecido da integridade acadêmica, disse que o problema começou com o sistema universitário administrado pelo Estado, no qual burocratas indicados por motivos políticos têm pouco conhecimento dos campos sobre os quais presidem. Pelo fato de a competição por bolsas de estudo, promoções e benefícios ser tão intensa, os funcionários baseiam suas decisões no número de artigos publicados por cada pesquisador.
Quando são expostos casos de plágio, os acusados com frequência são protegidos. Fang disse que isso acontece em parte porque preservar relacionamentos é visto como mais importante que proteger a reputação da instituição.
Mas outra razão, segundo ele, é preocupante: poucos acadêmicos são ilibados para que apontem um dedo acusatório para outros.
Uma consequência disso é que os plagiadores com frequência não são punidos, fato que encoraja a prática de mais plágios, disse Zeng Guoping, diretor do Instituto de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Tsinghua, em Pequim, que ajudou a conduzir a pesquisa com 6.000 acadêmicos.
Muitos educadores dizem que a cultura da fraude começa na escola de nível médio, onde a competição por vagas nas melhores faculdades do país é implacável, e notas altas nos exames padronizados são o critério mais importante de admissão. É possível comprar perguntas de exames e redações previamente escritas.
Também é possível contratar um "vestibulando de aluguel" para assumir a identidade do estudante durante o exaustivo exame de ingresso na faculdade, que leva dois dias.
Lu, estudante de engenharia que se formou na Universidade Tsinghua, vista como a nata do sistema universitário chinês, disse que fraudar exames é comum.
"Talvez isso seja uma diferença cultural, mas não há nada de negativo ou constrangedor nisso", disse Lu, que pediu anonimato. "Não é que os estudantes não possam fazer os trabalhos. Eles simplesmente veem isso como maneira de poupar tempo."


Com pesquisas de Li Bibo e Zhang Jing



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