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AMERICANAS
Falhas em lista de "terroristas" afetam vida de pessoas comuns
Por MIKE McENTIRE
Rahinah Ibrahim, estudante de doutorado na Universidade Stanford, chegou ao
aeroporto de San Francisco com sua filha de 14 anos para embarcar em um voo das
21h para seu país de origem, a Malásia. Como tinha feito uma histerectomia havia
pouco tempo, pediu uma cadeira de rodas.
Em vez disso, quando um funcionário da companhia aérea encontrou seu nome em uma
lista de passageiros proibidos de viajar, Ibrahim foi algemada, revistada e
detida, em meio a vários telefonemas envolvendo a polícia local, o FBI e o
Departamento de Segurança Doméstica dos EUA. Duas horas depois de seu voo
partir, ela foi liberada sem explicações. Viajou à Malásia no dia seguinte.
Quando tentou retornar aos EUA, porém, Ibrahim soube que seu visto fora
revogado. E, quando prestou queixa, dizendo que não deveria constar da lista de
terroristas a serem vigiados, a resposta do governo chegou um ano depois, em uma
carta padronizada dizendo apenas que seu caso tinha sido revisto e que quaisquer
modificações justificadas tinham sido feitas.
Todos os anos, milhares de pessoas se veem presas no processo de triagem de
terroristas do governo americano. Algumas são vítimas de erros de avaliação ou
de identidade, mas o simples fato de ter seu nome na lista as impede de ir ou
vir dos EUA.
O processo decisório envolvido é tão sigiloso que não se pode informar pessoas
se seus nomes estão na lista, por que razão estão nela e nem sequer se já foram
tirados. Funcionários do governo dizem que o sigilo mantém os terroristas na
incerteza. Mas defensores das liberdades civis afirmam que o segredo pode
ocultar erros e impedir que pessoas assinaladas por engano procurem reverter
essa situação.
Agora, cinco anos após a prisão de Rahinah Ibrahim no balcão da United Airlines,
uma ação que ela moveu está começando a desgastar esse muro de sigilo. Em
dezembro, um juiz federal ordenou que o governo libere os arquivos sobre a
detenção de Ibrahim.
Muçulmana que foi aos EUA para estudar engenharia civil, Ibrahim, 44,
impressionou seus colegas em Stanford. Um de seus orientadores, Raymond Levitt,
disse que, entre as pessoas que pudessem eventualmente constar de uma lista de
terroristas, Ibrahim "estaria no final".
O juiz William H. Alsup, que presidiu sobre a ação aberta por Ibrahim, também
pareceu cético. "Acho que foi um erro monumental e que identificaram a pessoa
errada", disse em dezembro.
As autoridades se negam a revelar por que suspeitaram de Ibrahim. Uma semana
antes de seu voo previsto para a Malásia, em janeiro de 2005, Ibrahim recebeu a
visita de dois agentes do FBI. "Eles chegaram a afirmar que não sabiam por que
estavam ali para interrogá-la", disse sua advogada, Marza Elzankaly. "Apenas
fizeram algumas perguntas sobre sua família, seu trabalho, seus planos de viagem
e seu grau de instrução."
Quando o agente no aeroporto encontrou o nome de Ibrahim na lista de passageiros
impedidos de voar, ele ligou para a polícia de San Francisco, que entrou em
contato com a agência americana de segurança nos transportes (TSA), em
Washington. Esta contatou um funcionário da United States Investigations
Services, uma de várias empresas particulares que a agência contratou para
conduzir seu centro de operações.
O boletim de ocorrência policial diz que o funcionário da empresa recomendou à
polícia "não autorizar Ibrahim a embarcar no voo, contatar o FBI e detê-la para
mais interrogatórios". Ela foi levada até uma subestação da polícia, onde foi
revistada e posta numa cela. Um agente do FBI acabou ordenando sua soltura,
acrescentando que ela estava sendo transferida para a lista dos passageiros
aprovados para embarcar e que poderia viajar a seu país.
Ultrajada, Ibrahim decidiu abrir um processo por detenção injustificada. Mas a
lei que criou a TSA tornou virtualmente impossível preparar uma contestação
legal contra a agência. Em vez disso, a ação aberta por Ibrahim foca o Centro de
Verificação de Terroristas do FBI, que não conta com as mesmas proteções legais.
"Se seu nome, meu nome ou o de qualquer outra pessoa presente neste tribunal
fosse colocado nessa lista, seríamos gravemente prejudicados", disse o juiz Alex
Kozinski em audiência em 2008. "Queremos ter alguma maneira de dizer 'veja bem,
eu não deveria constar dessa lista'."
Enquanto isso, Ibrahim obteve seu doutorado de Stanford, mas não pôde retornar
aos EUA para participar da ação legal. No mês passado, ela aceitou uma
indenização compensatória de US$ 225 mil da polícia de San Francisco e da US
Investigations Services. Mas ela prossegue com sua ação contra o governo
federal.
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