São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artista singular cria moinhos de vento com sucata

Por SCOTT SHANE

LUCAMA, Carolina do Norte - Quando você começa a pensar que já andou longe demais pela rodovia Wiggins Mill e começa a procurar um lugar para fazer meia- volta, as obras enferrujadas de Vollis Simpson surgem no horizonte.
Algumas das peças de Simpson estão a 9 metros de altura no ar, apoiadas ali por robustos pilares de aço: cavalos puxando uma carroça, um homem de metal dedilhando um violão, um cruzamento entre avião e foguete que lembra algo saído de um gibi antigo. Elas são pintadas e enfeitadas com hélices. A cada rajada de vento, elas gemem e giram como uma banda fantasmagórica de ferro-velho.
Lá embaixo, no chão, quase indistinguível na sombra de uma construção que parece um paiol, com o aviso "Oficina de Consertos Simpson" pintado na fachada, está um homem magro, com mãos grandes e nodosas, curvado sobre algumas sucatas de metal.
É Vollis Simpson, 91, ex-reparador de equipamentos agrícolas, que se aposentou e se lançou em uma segunda carreira como artista que trabalha com aço e alumínio descartados.
Simpson, que completou o ensino médio e integrou o Exército dos EUA, é o criador de algumas das obras mais singulares do gênero da arte caseira americana autodidata, hoje conhecida por nomes sofisticados como arte de outsiders ou arte visionária.
Suas obras são expostas permanentemente em Baltimore, Atlanta e Albuquerque. Pessoas da Carolina do Norte procuram seu sítio regularmente e pagam US$ 125 por um cachorrinho feito de parafusos e porcas. Algumas de suas maiores peças já foram vendidas por muitos milhares de dólares; outras foram doadas.
A atenção da qual é alvo parece deixá-lo confuso. Quando ele começou a fazer o que chama de seus "moinhos de vento", há 25 anos, chamava-os de arte? "Não chamava de nada", disse ele. "Ia ao ferro-velho todos os meses. Quando não tinham o que fazer com um material, eu o pegava."
A inspiração vinha da sucata. "Eu olhava para um pedaço de metal, pensava em algo e ia fazer."
Simpson -que ainda faz, às vezes, jornadas de até 10 horas em sua oficina- aprendeu a consertar coisas antes mesmo de aprender a ler. Quando estava em missão no Pacífico, durante a Segunda Guerra, ele criou seu primeiro moinho de vento com peças de um caça B-29 destruído, para alimentar uma máquina gigante que lavava as roupas dos soldados.
Alguns anos depois, Simpson enfeitou um moinho de vento descartado e instalou-o no pasto, ao lado da lagoa. Então, a partir dos anos 1980, pouco a pouco o conserto de tratores foi dando lugar à fabricação de cata-ventos.
Simpson atribui a seus cata-ventos o fato de ter passado dos 70 e poucos anos de vida que viveram seu pai e seus 11 irmãos. Mas ele pondera sobre o futuro do parque de diversões em que seu pasto se transformou. "Acho que, quando eu me for, vai tudo enferrujar e acabar caindo."
Enquanto isso, contudo, há trabalho a fazer. "Preciso ir à loja de materiais e pegar algumas engrenagens", disse a si mesmo.


Texto Anterior: Lembranças de casa decoram um lar distante
Próximo Texto: Indígenas americanos buscam seus idiomas esquecidos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.