São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Manufatura deve mudar na China


Custos sobem na cadeia de abastecimento

Por DAVID BARBOZA SHENZHEN, China - Pesquisadores no Vale do Silício abriram o revestimento de um iPhone4 no mês passado e começaram a analisar seus componentes, tentando descobrir a identidade dos principais fornecedores da Apple. Esses "relatos de desmonte" oferecem um vislumbre do processo manufatureiro da empresa.
O que revelou a análise mais recente é que a parte menor dos custos da Apple vem de Shenzhen, onde operários montam itens como microchips vindos da Alemanha e Coreia do Sul, chips de fabricação americana que recebem sinais de Wi-Fi ou celular e mais de cem outros componentes.
Mais de uma dúzia de chips de circuito integrado são responsáveis por cerca de dois terços do custo de produção de um único iPhone4, segundo a firma de pesquisas iSuppli, da Califórnia, que divulgou o relatório sobre o desmonte do aparelho.
A Apple paga à Samsung cerca de US$ 27 pela memória flash e US$ 10,75 para fabricar seu processador de aplicativos (desenhado pela Apple), e uma fabricante alemã chamada Infineon recebe US$ 14,05 por telefone por seus chips que transmitem e recebem ligações e dados.
A parte eletrônica custa muito menos. O giroscópio, uma novidade do iPhone4, foi produzido pela STMicroelectronics, de Genebra, e acrescentou US$ 2,60 ao custo do aparelho.
De acordo com a iSuppli, o custo total dos materiais -os componentes usados na montagem final- de um iPhone vendido a US$ 600 é US$ 187,51.
As partes menos caras do processo são a manufatura e a montagem. Estas frequentemente são feitas no sul da China, onde operários recebem menos de US$ 1 por hora para soldar, montar e embalar produtos para marcas globais famosas.
Mas a manufatura na China está prestes a encarecer muito. A alta dos custos da mão de obra, decorrente de escassez e de protestos trabalhistas, o fortalecimento da moeda chinesa, que encarece as exportações, a inflação e os custos habitacionais crescentes ameaçam elevar o custo de aparelhos como notebooks, câmeras digitais e "smartphones".
Desesperados, donos de fábricas já começaram a deslocar as operações produtivas do centro principal de manufatura eletrônica do país, em Shenzhen, para regiões de custos inferiores distantes em direção oeste.
No final de junho, um gerente da Foxconn -uma das principais manufatureiras que trabalham por contrato com a Apple- disse que, para reduzir seus custos, a empresa planeja transferir centenas de milhares de operários para outras regiões da China, incluindo a pobre Província de Henan.
Enquanto a mão de obra envolvida na montagem final de um iPhone responde por uma parte pequena do custo total do aparelho -cerca de 7%, segundo estimativas-, os fabricantes de chips, fornecedores de baterias e fabricantes de molduras plásticas e placas de circuito dependem das fábricas chinesas para manter os preços baixos. E, agora, parece provável que essas fábricas repassem os aumentos em seus custos.
"As empresas já estão apertadas, de modo que reduzir ainda mais os custos do sistema não será fácil", disse Jenny Lai, analista do banco de investimentos CLSA, de Hong Kong.
A Apple poderá enfrentar a situação melhor que a maioria das empresas, porque tem uma margem grande de lucro que lhe possibilitará absorver alguns desses custos.
Mas os fabricantes de PCs, celulares e outros eletro-eletrônicos -entre eles Dell, HP e LG- trabalham com margens de lucros muito menores. "Para eles, os desafios serão muito maiores", ponderou Lai.
E, quando uma empresa opera com as margens de lucros mais estreitas possíveis, como é o caso das manufatureiras que trabalham por contrato, um aumento nos custos de mão de obra representa um problema sério.
"A China não quer mais ser a oficina do mundo", disse Pietra Rivoli, professora de administração internacional de empresas na Universidade Georgetown, em Washington. "O valor vai para onde está o conhecimento."

Colaborou com pesquisa Chen Xiaoduan


Texto Anterior: Farmacêuticas da Índia ganham papel global
Próximo Texto: Religião no ambiente de trabalho exige tato e respeito

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.