São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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Fotógrafos fugazes, capturados pela câmera

Os cientistas ainda não determinaram que porcentagem da contemplação de obras de arte é feita através do visor de uma máquina fotográfica ou celular, mas o número certamente vem subindo. Foi por essa razão que Ruth Fremson, fotógrafa do "New York Times" que cobriu a Bienal de Veneza no verão americano deste ano, retornou com tantas fotos de pessoas fazendo mais ou menos o mesmo que ela: tirando fotos de obras de arte ou de pessoas olhando para obras de arte. Mais ou menos.
Apenas duas das pessoas tinham uma máquina fotográfica tradicional e realmente a seguravam diante dos olhos. Todas as outras estavam usando telefone celular ou minicâmera e olhavam para uma tela minúscula, o que tende a tornar muito mais casual o processo de enquadramento das fotos. Essa novidade está mudando o visual da fotografia.
A onipresença de máquinas fotográficas em exposições pode ser desconcertante, especialmente quando interpretada como sinal de que a maior parte das obras de arte passou a ser apenas mais uma evidencia de que alguém passou pelo local. Vista sob ótica mais generosa, a câmera é uma maneira de se conectar às pessoas, de participar e de colecionar experiências fugazes.
E a presença da câmera em uma imagem pode parecer parte da estranheza desta, como se percebe com a foto feita por Ruth Fremson de um senhor fotografando um mural fotográfico de Cindy Sherman, que faz Sherman, fantasiada de malabarista de circo, parecer que está posando para ele. Sherman parece mais real na foto do que pareceu na instalação.
É claro que uma foto de uma pessoa fotografando uma foto feita por uma artista dela própria representando um papel -tudo isso são camadas de uma cebola, o tipo de cebola a ser encontrada apenas entre pessoas que fazem fotos em uma exposição.

ROBERTA SMITH



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