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Após uma era de isolamento, Síria emerge mais flexível
Por ROBERT F. WORTH
DAMASCO, Síria — Há apenas um ano, o governo sírio era tachado de pária perigoso. Os Estados Unidos e seus aliados
árabes montaram uma campanha forte para isolar a Síria, que acusaram de semear o caos e a violência na região com seu apoio a grupos militantes como Hizbollah e Hamas.
Hoje, porém, uma enxurrada de aberturas
diplomáticas com o Ocidente e países
vizinhos árabes vem propiciando esperanças
de uma liderança síria emendada
e flexibilizada que pode ajudar a estabilizar a região. A Síria tem suas prioridades próprias, porém, e uma série
de turbulências na região, incluindo a ofensiva recente de Israel na faixa de Gaza, tornam difícil prever para onde pode levar esse novo diálogo.
Não é questão apenas da nova política
de engajamento do governo de Barack Obama nos EUA. O presidente
francês Nicolas Sarkozy liderou a aproximação, fazendo uma visita à Síria em setembro passado. O rei Abdullah,
da Arábia Saudita, que, dizia-se, estaria furioso com o presidente sírio, Bashar al Assad, o recebeu calorosamente
na capital saudita, Riad, no mês passado.
A esperança anterior da Arábia Saudita e dos principais países árabes
sunitas era afastar a Síria do Irã por meio do isolamento. Agora, porém, como Obama, eles parecem experimentar táticas mais benevolentes.
Para os sírios, a reviravolta é prova de que seus vínculos com o Irã são de fato úteis. Arábia Saudita e outros
países árabes “têm grande interesse
em manter boas relações entre Síria e Irã, porque em tempos difíceis poderão contar com a ajuda da Síria”, disse o vice-ministro de Relações Exteriores
sírio, Faisal Mekdad.
A ofensiva recente de Israel na faixa de Gaza gerou enorme revolta popular e modificou as bases da política árabe. Ela colocou a Arábia Saudita e seus aliados
na defensiva e fortaleceu a Síria, que abriga a liderança do Hamas.
“Acho que o Ocidente está mais preocupado
que os árabes com o dossiê nuclear
iraniano”, disse Mekdad. “Acho que nossos irmãos na Arábia Saudita compreendem que a ameaça não é o Irã, e sim a capacidade nuclear israelense.
Essa política de dois pesos, duas medidas está provocando a ira de todos os árabes.”
Consta que algumas figuras da liderança
síria estariam preocupadas com as novas tentativas de aproximação do governo Obama.
“Há quem sinta saudades da administração
de Bush, porque com ela, pelo menos, sabíamos em que pé estávamos”,
comentou um analista sírio ligado à liderança, mas que exigiu anonimato
porque não queria ser sujeito a escrutínio por manifestar diferenças de opinião. “Com Obama, as exigências americanas não mudaram realmente, mas há uma impressão de uma nova era e uma expectativa de novos resultados vindos de nós.”
Analistas dizem que as metas da Síria no Iraque hoje são semelhantes às dos EUA. A Síria agora contempla uma retirada
americana iminente e tem plena consciência de que ela própria pode virar alvo dos jihadistas, especialmente se fechar
qualquer espécie de acordo de paz com Israel.
“Cada vez mais, a Síria está interessada
na estabilidade do Iraque”, disse Peter Harling, analista-sênior, em Damasco,
junto ao International Crisis Group. “Ela cobiça benefícios econômicos
potencialmente enormes, colocando-
se como compradora de produtos petrolíferos do Iraque e fornecedora dos mercados iraquianos emergentes. Além disso, um objetivo crucial da Síria vem sendo conservar o Iraque no entorno
árabe, e não iraniano.”
Os EUA, com sua presença militar no Iraque e em outros lugares, pode ser um parceiro útil nesse campo. Indagado sobre o que espera de um novo diálogo entre Síria e Estados Unidos, o vice-ministro Mekdad respondeu: “Uma cooperação muito boa” em questões de contraterrorismo.
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