São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Um acadêmico em alta e astro de Hollywood

Por MELENA RYZIK

VANCOUVER, Colúmbia Britânica - O ator James Franco está em uma missão para ser um artista, e não apenas uma celebridade. Suas pinturas e videoinstalações já foram expostas em galerias. Ele está estudando para diplomas avançados em várias faculdades, escrevendo contos e compondo poesia, enquanto trabalha na série "General Hospital" da rede ABC e ainda flerta em filmes de grande orçamento como Comer, Rezar, Amar. Seu percurso transcultural provocou fofocas em blogs e na mídia impressa, às vezes com a ajuda do próprio Franco.
Em Howl [Uivo], Franco, 32, interpreta o poeta Allen Ginsberg quando jovem; na maior parte de sua atuação, ele dá uma entrevista a um interlocutor que não aparece em cena. O filme inaugurou o Festival de Cinema Sundance este ano e terá um lançamento mais amplo em 24 de setembro.
Franco conheceu os cineastas Jeffrey Friedman e Rob Epstein no estúdio de filmagem de Milk -seu diretor, Gus Van Sant, é um produtor executivo de Howl- e aderiu mesmo antes que tivesse conseguido financiamento. "Foi uma grande força e nos deu muita credibilidade", disse Friedman sobre o recrutamento de Franco, que talvez seja mais conhecido por sua participação em três filmes Homem-Aranha.
Franco preparou-se assistindo a entrevistas, lendo biografias, conversando com especialistas, usando óculos iguais aos de Ginsberg. Sua crença em que o jovem poeta foi um comunicador ávido, mesmo quando estava apenas descobrindo o que queria dizer, se aplica a sua própria trajetória.
Enquanto se preparava para Howl, Franco matriculou-se em programas de mestrado nas Universidades de Nova York (em cinema) e de Columbia e Brooklyn College (letras). Durante meses, caminhou até as aulas em Nova York escutando a leitura de Howl por Ginsberg em seu iPod. "Eu levava o livrinho comigo, e o escutava e lia junto com ele para assimilar aquela voz na minha cabeça", disse o ator.
Franco fez três curtas-metragens sobre poemas para a faculdade e está trabalhando em um longa sobre o poeta Hart Crane, que vai adaptar (da biografia de Paul L. Mariani), dirigir e estrelar. E está no quinto semestre de outro programa de graduação, em poesia, no Warren Wilson College, na Carolina do Norte.
Essa sobrecarga acadêmica não é muito comum entre atores, mas Franco foi além disso. Sua estreia artística em Nova York pode ser vista na galeria Clocktower. Seu primeiro livro, Palo Alto, uma coletânea de contos ambientados em sua cidade natal na Califórnia, será publicado em outubro. Depois disso virá 127 Hours, a dramatização feita por Danny Boyle sobre a história real de Aron Ralston, o montanhista que foi obrigado a amputar o próprio braço quando ficou preso em um cânion em Utah; Franco também passa a maior parte de seu tempo em cena sozinho.
Neste outono, ele começa um programa de Ph.D. em inglês na Universidade Yale, em Connecticut.
"Eu não deveria dizer que estou fazendo tantas coisas, porque começa a parecer ridículo depois de algum tempo", disse Franco, com razão.
Os projetos de poesia e seu livro são os menos influenciados por sua celebridade, disse, embora saiba que as pessoas verão tudo através desse prisma. "Por mais que eu trabalhe no cinema, é o meu emprego fixo", disse. "Os outros são... não sei, pura expressão."
Parte de sua hiperprodutividade é consequência de sua criação. Seus pais se interessavam por pintura, desenvolvimento de software, reforma educacional e livros infantis. "Acho que eu poderia dizer que temos uma família artística e muito estranha", disse Dave Franco, o mais moço de três irmãos, que também é ator.
A transição de James Franco de astro do cinema para intelectual não surpreende Seth Rogen, que coestrela com Franco na TV o seriado cult "Freaks and Geeks". "Na verdade, seria realmente estranho se ele seguisse apenas a trajetória de astro do cinema", afirmou Rogen.
Franco está mais feliz como artista hoje, mesmo que seus esforços além do cinema até agora não tenham sido sucesso de crítica. "Tudo o que posso fazer é trabalhar", ponderou. Ele é um estudante ambicioso, e não um super-herói.


Texto Anterior: Ensaio - Allan Kozinn: Na floresta dos intrumentos, sinais de evolução
Próximo Texto: Baladas do conflito são sucesso na Colômbia
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.