São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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Imite aquele zíper!

Por RUTH LA FERLA

A estilista Maya Yogev tem uma queda pelo couro -seus casacos e jaquetas de pele de cordeiro são tão maleáveis quanto cera. Seus modelos expressam uma sensibilidade "no lado mais sombrio", admitiu ela, com suas cores sóbrias, lapelas em cascatas e formas esparramadas. Eles também têm uma semelhança mais do que passageira com os modelos de Rick Owens, outro californiano cuja estética sorumbática é o assunto atual nas passarelas.
"Já me disseram que é uma espécie de plágio", disse Yogev sobre seu trabalho. "Isso às vezes pode ser frustrante." Mas as comparações com Owens "também podem ser úteis", acrescentou ela. "Assim que você menciona o nome dele, todo mundo fica automaticamente atraído."
Sua afinidade pelos couros desbotados, de tons góticos, e por formas esticadas é compreensível. Yogev, estilista da Grai, de Los Angeles, foi aprendiz de Owens no começo da carreira. Mas ela está longe de ser a única a seguir seu estilo particular de decadência urbana.
Nos últimos meses, uma verdadeira indústria brotou em torno de Owens, que talvez seja o estilista mais imitado da moda. Casas rivais correm para produzir suas próprias destilações das suas abas angulares, zíperes em ziguezague, camisetas de gaze e jaquetas de motociclistas maleáveis como uma segunda pele.
Na tradição de Giorgio Armani, Vivienne Westwood e Tom Ford, as ideias de Owens são absorvidas ou diretamente copiadas em coleções tão diversas como as de Alexander Wang e Rag & Bone, ou, num nível mais patentemente comercial, pelas grifes Topshop e American Apparel.
"Ele certamente capturou o momento", disse Kathryn Deane, presidente do "Tobé Report", um boletim do varejo. Mais ou menos a cada década, segundo ela, "todo mundo parece estar no mesmo comprimento de onda, e por enquanto o comprimento de onda é Rick Owens".
Owens parece falar mais persuasivamente para estilistas de ponta: Alexa Adams e Flora Gill, da Ohne Titel; Haider Ackermann, cuja coleção recente foi dominada por couros maleáveis dobrados; Gareth Pugh, em Londres; e Nicole e Michael Colovos, da Helmut Lang, cujas jaquetas com zíper oblíquo e gola funil e casacos de couro e pele de ovelha, cortados de modo a revelar camadas subjacentes suavemente dobradas e leggings amarrotados, ecoam inequivocamente as jaquetas de Owens.
O casal Colovos, que diz ter tido seu estilo moldado pela construção angular e as complexas camadas da vanguarda japonesa, e pela fantasmagórica palheta de pintores como Marlene Dumas, afirma que tais comparações são inevitáveis. "Às vezes todo mundo parece estar junto", disse Nicole Colovos. "Estamos respondendo a uma sensação que simplesmente é canalizada de alguma forma."
Essa "sensação" -uma confluência de rock star e cripta-chic- é algo que Owens tem vendido há anos. Desde que fundou sua grife em Los Angeles, em 1994, esse estilista de 47 anos raramente se desviou do seu estilo característico.
A ascensão de Owen como centro de atração da moda é um paradoxo. Afinal, ele foi durante muito tempo uma figura às sombras na indústria, um "outsider" radicado em Los Angeles. Por e-mail, ele respondeu com uma ríspida resignação à sugestão de que outros estariam copiando seus modelos. "Quando alguma coisa está no ar", escreveu, "ninguém pode realmente possuí-la".


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