São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2011

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LENTE

O mundo é dos ricos

Quando o "sacrifício compartilhado" é igual a poupar ricos

Enquanto a economia mundial parece estar em queda livre, há muitos bolsões onde os recentes tombos do DAX e do Dow têm praticamente o mesmo efeito que a previsão do tempo em terras distantes. Só interessa se for você quem vai se molhar. Onde o dinheiro -novo ou velho- é abundante, a maior dúvida, às vezes, é com que gastá-lo.
Para alguns chineses que já adquiriram um Mercedes-Benz, uma coleção de antiguidades em jade e um apartamento caro, o próximo investimento é de natureza mais carnal, contou o jornal americano "The New York Times". Para um empreendedor imobiliário de Shenzhen, de 42 anos, isso significa gastar cerca de US$ 6.100 por mês pelo afeto de uma estudante de artes de 20 anos.
"Manter uma amante é como jogar golfe", disse Jian (não é o seu nome completo) ao "Times". "Ambos são passatempos caros."
Mas as proezas dele não são nada em comparação a alguns outros contemporâneos seus entre os emergentes da China. Um ministro das Ferrovias, demitido por desviar US$ 152 milhões ao longo dos anos, teria tido 18 amantes; um ex-vice-prefeito de Hangzhou, executado por corrupção e peculato, supostamente tinha dúzias delas.
Israel, que já foi um exemplo reluzente de igualdade, com uma tradição que inclui os "kibutzim", rigidamente igualitários, agora tem uma das maiores disparidades entre ricos e pobres no mundo industrializado, noticiou o "Times".
O ressentimento contra um punhado de famílias abastadas é um dos principais motivos por trás dos acampamentos de protestos que têm sacudido o país.
"O que está mantendo as pessoas nas ruas é a seguinte pergunta: se todos estamos em dificuldades e todos estamos trabalhando e pagando impostos, quem está lucrando?", disse ao "Times" a cineasta Daphni Leef, 25, que iniciou esse movimento de protesto com uma mensagem no Facebook. "Sabemos que há certas famílias que têm muito dinheiro e muita influência, e não há transparência. As pessoas se sentem enganadas."
O problema deriva das privatizações feitas nas décadas de 1980 e 1990, quando patrimônios públicos foram vendidos a quem pudesse pagar por eles, disse ao "Times" Daniel Doron, diretor do Centro de Israel para o Progresso Econômico e Social. Isso levou a níveis perigosos de concentração econômica, semelhante à situação na ex-União Soviética, no Egito e na Síria.
Quando a economia se acelerou, na década de 1990, essas empresas usaram sua forte posição no mercado para aumentar preços. "Hoje, toda a economia israelense está construída sobre elites vorazes espoliando os consumidores", afirmou Doron.
Se parte dessas elites vorazes adotasse uma abordagem mais igualitária, talvez a raiva contra elas se dissipasse um pouco.
Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, com um patrimônio líquido de cerca de US$ 50 bilhões, escreveu no "Times" sobre sua frustração com o sistema tributário americano. Sua queixa: ele não está pagando o suficiente.
Embora tenha entregado US$ 6.938.744 ao governo dos Estados Unidos no ano passado, ele contou que isso significava apenas 17,4% dos seus rendimentos tributáveis, algo bem abaixo da média de 36% pagos por seus 20 colegas no escritório da Berkshire Hathaway.
Durante a recente crise relacionada ao teto da dívida dos EUA, Buffett escreveu: "Nossos líderes pediram um 'sacrifício compartilhado'. Mas ao fazerem o pedido, me pouparam. Verifiquei junto aos meus amigos megarricos para saber que pancada eles estavam esperando. Eles também foram deixados incólumes".
Isso precisa mudar ou o futuro dos EUA estará em perigo e sua legitimidade como líder mundial ficará ameaçada.
"Meus amigos e eu já fomos bastante mimados por um Congresso amigável com os bilionários", concluiu Buffett. "É hora de o nosso governo levar a sério o sacrifício compartilhado."
TOM BRADY

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