São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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HERMAN VAN ROMPUY

Mão firme e controle sutil marcam Presidência da União Europeia

"Eu me considero um facilitador. Não se pode governar a Europa contra seus membros"

Por STEVEN ERLANGER e STEPHEN CASTLE
BRUXELAS - Aos 62 anos, o novo presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, é, de repente, um homem importante, à frente de um conselho, a espinha dorsal da União Europeia, formado por 27 governos.
É uma tarefa que exige sutileza, manipulação e capacidade de sedução.
Ele recebeu uma boa avaliação pela forma como lidou com os líderes nacionais durante a crise do euro neste ano. "Se a zona do euro se desintegrasse", disse, "teria sido o fim da União Europeia".
Van Rompuy está convencido de que a maneira modesta como está guiando a Europa, nos bastidores -e discretamente ampliando sua influência-, é a única maneira possível de fazer isso.
Ele reclama quando é comparado a um mero "anfitrião" dos chefes de governo.
Diz que também já foi chamado de "rato cinzento", e um eurodeputado britânico comparou em fevereiro seu carisma ao de "um pano úmido".
"Toda a minha carreira tem sido assim, mas há quem discorde", disse. Então, sorriu e acrescentou: "Sou um santo na Bélgica hoje em dia".
Quem preferia uma personalidade carismática para falar em nome da Europa estava cometendo um grave erro, disse Van Rompuy. "Eu me considero um facilitador", afirmou. "Não se pode governar a Europa contra os Estados-membros."
Esse economista e ex-premiê belga de centro-direita é, mais ou menos, a antítese do político moderno. É casado há 33 anos com uma bióloga e tem quatro filhos.
Nascido no ano de 1947 em Bruxelas, Van Rompuy viveu no Congo, onde seu pai lecionou. Foi republicano num país onde a monarquia era popular. Certa vez, manifestou "o desejo de ser presidente da Bélgica".
Ele escreve "haikais", não fala frases de efeito e parece contente em discutir como perdeu a fé em Deus aos 12 anos, para depois recuperá-la por volta dos 25. "Eu regularmente me pergunto o que aconteceu. Mas a fé não é uma questão de argumentos racionais."
Ele é um clássico democrata cristão europeu que acredita na ética e na justiça social.
Tem impressionado muita gente pela forma como enfrentou a crise do euro, como administra as profundas diferenças entre França e Alemanha e por sua capacidade de ampliar sua influência de uma maneira que às vezes ameaça a Comissão Europeia e o seu presidente, José Manuel Barroso.
Van Rompuy parece ter uma estratégia modesta, mas coerente, para a União Europeia. Sem revitalizar sua economia, argumenta, a Europa não pode manter seu apreciado modo de vida, e os líderes nacionais precisam assumir a responsabilidade coletiva pela economia como um todo, não só dos seus próprios países.
Ele tem tido um papel importante nos esforços para endurecer as regras que norteiam o euro, de modo que as economias nacionais sejam mais monitoradas, e que os países desobedientes sofram sanções.
Louis Tobback, ex-adversário político numa coalizão de governo com Van Rompuy, respeita suas habilidades: "Era preciso ser sempre muito cuidadoso para lidar com ele, porque, com frequência, entendia as coisas mais rápido e melhor do que você".
Quatro meses depois de deixar de ser primeiro-ministro, o governo belga caiu. "Eu tinha uma tarefa muito importante na Bélgica", afirmou. "Senti que eu era o único capaz de encontrar uma solução. Há momentos em que você é insubstituível, e outros em que você pode morrer e ser substituído no dia seguinte."


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