São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Indonésia luta para limpar rio essencial a milhões de pessoas

Dadang Tri/Reuters
Indonésios tentam recolher lixo reciclável no rio Citarum, a principal fonte de água de Jacarta, no ano passado

Por PETER GELLING

BEKASI, Indonésia - O rio Citarum, que serpenteia pelo oeste de Java entre plantações de arroz em terraços e cidades pujantes, é uma agressão aos sentidos. Os visitantes podem sentir seu mau cheiro antes de vê-lo. Alguns pescadores ainda ganham a vida nas águas sujas do rio, mas muitos não estão mais atirando suas iscas. Em vez disso, remam seus barcos entre o lixo flutuante, em busca de velhos pneus e outros dejetos que possam vender.
O rio, considerado por muitos ambientalistas um dos mais poluídos do mundo, está intimamente entrelaçado na vida dos javaneses ocidentais.
Ele fornece 80% da água doméstica para os 14 milhões de habitantes de Jacarta, irriga fazendas que fornecem 5% do arroz da Indonésia e é uma fonte de água para mais de 2.000 fábricas, que são responsáveis por um quinto da produção industrial do país, segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento.
Os aldeões que vivem em suas margens usam as perigosas águas do Citarum para lavar roupa e tomar banho.
Quase todo mundo vê o rio como uma espécie de lata de lixo em movimento: um receptáculo conveniente para os efluentes químicos das fábricas, pesticidas das fazendas e dejetos humanos.
Em conseqüência, em trechos do rio perto de Jacarta os peixes quase desapareceram, destruindo o ganha-pão de milhares de pescadores.
"Eu sei que a cor do rio não está certa", disse Sutri, dona de um pequeno restaurante em Bekasi, um subúrbio industrial de Jacarta. "Mas não sei nada sobre produtos químicos perigosos. De qualquer modo, não tenho outro lugar para conseguir água." Sutri, que como muitos indonésios usa só um nome, disse que lava os pratos do restaurante no rio, assim como suas roupas e seus filhos.
Os ambientalistas acusam a industrialização e a urbanização aceleradas e desregulamentadas dos últimos 20 anos pela degradação da bacia do rio.
Os danos ambientais já estão custando vidas; as inundações causadas pelo desmatamento e os esgotos entupidos de lixo são um constante problema em cidades ao longo do Citarum.
A lista de problemas é preocupante o suficiente para que o Banco Asiático de Desenvolvimento tenha se comprometido neste mês a dar à Indonésia um empréstimo de US$ 500 milhões por vários anos para financiar a limpeza e a reabilitação planejados pelo banco e pelo governo.
O dinheiro será usado para limpar o Citarum e o canal Tarum, que o liga a Jacarta, e para criar um plano de longo prazo para usar melhor a água do rio. Uma parte do empréstimo seria para montar uma organização independente que administraria o Citarum.
Mas mesmo antes de o banco começar a distribuir o empréstimo ele já tem a oposição de grupos cívicos locais. Eles temem que o governo esteja assumindo dívidas demais e que não haja proteções adequadas para garantir que os pobres recebam benefícios suficientes. Temem também que o dinheiro se perca na corrupção endêmica da Indonésia. "O foco parece ser para a população de Jacarta, e não a população local daqui", disse Nugraha, 30, um ativista comunitário.
Christopher Morris, um engenheiro de recursos hídricos do Banco Asiático de Desenvolvimento, que aplicará US$ 50 milhões para limpar o canal que leva água para Jacarta, diz estar comprometido com projetos de financiamento nos próximos 15 anos que vão beneficiar todos os usuários do rio.
Entre os objetivos está construir usinas de tratamento de lixo para limpar a água doméstica para a Grande Jacarta, criar mais represas para que haja água adicional para comunidades em crescimento como Bandung, a quarta maior cidade da Indonésia, e simplesmente limpar o rio para que as pessoas que vivem perto dele possam mais uma vez contar com a fonte de água.
Nem todos os projetos podem ser realizados rapidamente. "Estamos adotando uma abordagem de longo prazo, mas reconhecemos que há algumas coisas que podemos consertar rapidamente", disse Morris. "Mas mudar o comportamento da comunidade exige muito planejamento e preparativos cuidadosos."


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