São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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Wall Street ainda estuda se ativos ruins valerão a pena


Há o temor de obter grandes lucros e atrair o desprezo do público

Por MICHAEL J. de la MERCED e ZACHERY KOUWE

Howard S. Marks é o tipo de financista que Washington quer para solucionar os bancos em dificuldades dos EUA. O problema é que ele não tem certeza se aceitará a tarefa.
Marks é um ex-banqueiro pioneiro em Wall Street. Ele é um dos maiores atores em investimentos problemáticos ("distressed") -aplicações arriscadas em ativos que poucos querem tocar.
Mas, neste caso, ele e outros potenciais investidores estão conscientes do risco.
Com seu plano para apoiar os bancos, o governo de Barack Obama espera incentivar investidores como Marks, que tem US$ 55 bilhões sob seu comando, a comprar ativos podres dos bancos do país e permitir que estes liberem crédito para ressuscitar a economia. Em suma, o governo espera contrabalançar parte do medo que domina o mundo financeiro com um pouco da boa e velha ganância.
Para combater o colapso, Washington quer atrair alguns dos mesmos financistas que enriqueceram durante o boom: executivos de fundos de investimentos e especialistas em aquisições corporativas.
Mas Marks e outros investidores como ele disseram que não têm pressa para se aventurar nessa confusão. Os investidores em ativos podres -"abutres" é o termo empregado por Wall Street- pretendem comprar investimentos baratos na esperança de obter grandes lucros.
Mas, mesmo para os "abutres", os riscos -políticos e financeiros- parecem desafiadores. Alguns temem ser vistos como exploradores que lucram às custas dos contribuintes, mesmo que a economia possa piorar se eles não interferirem.
"É preciso avaliar se o negócio é interessante", disse Marks, presidente da Oaktree Capital Management, empresa de gestão de capitais em Los Angeles. Tudo depende do preço, das condições e dos riscos, disse. É claro que Wall Street quer o que sempre quis: muito potencial de lucro de um lado e pouco risco de prejuízos do outro.
Mas quando o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, explicou seu abrangente plano de socorro, em 10 de fevereiro, as perguntas se acumularam. Que tipo de ativos os bancos venderiam e por que preço? Que papel teria o governo? E a principal: quanto valem realmente esses investimentos? Os próprios bancos estão tendo dificuldades para avaliá-los.
Centenas de bilhões de dólares desses ativos pairam sobre os bancos. Até que haja uma maneira clara de expurgá-los, o setor e a economia em geral provavelmente continuarão debilitados.
É aí que os "abutres" entram. Os fundos hedge e outras instituições dominam o campo dos investimentos problemáticos e são conhecidos por fazer propostas duras. Nas últimas semanas, vários diretores de importantes fundos se reuniram com Lawrence Summers, o chefe do Conselho Econômico Nacional, para discutir a planejada parceria público-privada.
Poucos desses investidores estão dispostos a discutir publicamente seus planos. Alguns temem que seus próprios investidores, que incluem grandes fundos de pensão públicos, considerem os potenciais investimentos arriscados demais. E alguns não teriam permissão para comprar esses ativos, de acordo com suas diretrizes de investimento.
Mas, se os "abutres" pousarem, suas recompensas poderão ser enormes. Fundos especializados em investimentos problemáticos obtiveram retornos anuais de mais de 30% no início dos anos 1990, quando a economia saía da recessão.
"Há muitas pessoas dispostas a assumir o risco, mas elas querem grandes retornos", disse Chip MacDonald, sócio da firma de advocacia Jones Day.
Um modelo poderia ser a venda agenciada pelo governo do IndyMac Bancorp, o grande credor de hipotecas da Califórnia que faliu no último verão americano. O IndyMac foi comprado por um grupo particular no mês passado por US$ 13,9 bilhões. Como parte do negócio, os investidores aceitaram assumir os primeiros 20% de prejuízos do banco, enquanto o governo ficou com o resto.
Outra grande questão é o preço pelo qual os ativos problemáticos seriam avaliados pelos bancos. Enquanto os potenciais investidores querem comprar o mais barato possível, os bancos poderiam ter de fazer depreciações debilitantes se venderem a preços de liquidação. Esse resultado pode não ser do interesse do governo ou dos contribuintes.
E os potenciais custos políticos, segundo os gestores de capital, são reais. Alguns deles disseram que, se trabalharem direito, poderão obter retornos de dois dígitos e, com eles, o desprezo do público.
Não há como sair ganhando, disse um executivo de capitais privados. "Quando lucramos, nos criticam. Neste ano nós perdemos, e estão nos criticando."


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