São Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009

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LENTE

Arrogância pode custar caro

Numa recessão, não é difícil dar adeus a roupas de grife, jantares em restaurantes caros e obras de arte de grande valor. E há mais uma coisa que parece estar desaparecendo: os pouco acolhedores e esnobes vendedores dessas coisas.
Enquanto as empresas lutam para não perder sua clientela, o clima mudou, escreveu Frank Bruni no "New York Times", tornando-se um de "solicitude extrema tingida de puro e simples desespero".
Parece que hoje em dia qualquer pessoa que possa ter um cartão de crédito merece tratamento de estrela, escreveu Eric Wilson, do "New York Times", que encontrou vendedores cordiais e pacientes nas lojas Ralph Lauren, Tom Ford e Prada, em Manhattan.
Algumas companhias, como a grife de roupas Max Mara, estão fazendo seus funcionários assistirem a seminários nos quais aprendem a lidar melhor com fregueses. A Shiseido, segunda maior empresa de cosméticos do Japão, está treinando 5.000 "consultoras de beleza" para dar atenção personalizada às clientes.
Os executivos da Shiseido enfatizam o conceito de "omotenashi", que significa hospitalidade, "mas, para os japoneses, quer dizer algo mais próximo de uma cortesia elevada que faz os fregueses se sentirem valorizados e respeitados", escreveu Miki Tanikawa, no "New York Times". "Essa atenção aos detalhes e aos fregueses pode acabar garantindo a sobrevivência de empresas de produtos, como a Shiseido, durante a recessão."
A colaboração pode ser outra estratégia criativa. Butiques como a Robin Richman, em Chicago, estão convertendo seus espaços em empórios que vendem de tudo, escreveu Ruth La Ferla, do "New York Times": sandálias brilhantes, litografias e quadros a óleo.
"Não dá para recusar", disse a La Ferla a artista Monica Serra. Ela concordou em expor seus retratos, que custam cerca de US$ 10 mil cada, na butique de moda Mina, em Manhattan, depois de uma de suas galerias ter sido fechada. "Se a economia estivesse bem, talvez eu tivesse pensado duas vezes", disse Serra. "Eu poderia ter me preocupado, achando que o mundo das artes não me levaria a sério. Mas o que fazer -guardar as pinturas em casa porque não se encontrou o lugar certo para vendê-las?"
No mundo dos restaurantes, lugares nos quais antes era difícil conseguir uma reserva agora estão acessíveis. Atingidos pela recessão, os restaurantes tentam facilitar a vida do consumidor de maneiras até então inéditas, com promoções especiais, mordomias e muita flexibilidade.
Há cardápios especiais de recessão, menus de jantar com três pratos por US$ 35, descontos nos vinhos e suspensão de taxa de rolha, mesmo em restaurantes de chefs famosos, como Mario Batali, Jean-Georges Vongerichten e Daniel Boulud.
Karen Waltuck, uma das donas do restaurante Chanterelle, disse: "Olhamos em volta e dissemos: 'O que está acontecendo? O que podemos fazer para melhorar a situação para nós e para nossos clientes?' Todos precisamos ser inteligentes".
O dono de alguns restaurantes chiques em Praga resolveu levar o conceito ainda mais longe: está permitindo que os clientes paguem o que quiserem. Dan Bilefsky, do "New York Times", escreveu que Sanjiv Suri espera que, ao receber uma conta em branco depois da refeição, executivos não queiram ser vistos por seus convidados como mesquinhos. "Mesmo que não paguem nada, eles quase certamente retornarão outras vezes, pagando", disse ele.
Quem poderia imaginar que, numa recessão, existiria um almoço grátis?


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