São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Ilhas de lixo navegam pelo Pacífico

Por LINDSEY HOSHAW
A BORDO DO NAVIO ALGUITA, a 1.600 km do Havaí - Numa parte remota do oceano Pacífico, a centenas de quilômetros de distância de qualquer fronteira nacional, detritos da vida humana se reúnem em uma correnteza giratória tão grande que é impossível medi-la com precisão.
Lâmpadas, tampas de garrafas, escovas de dentes, palitos de sorvete e pedaços de plástico do tamanho de grãos de arroz habitam a mancha de lixo do Pacífico, uma área dispersa de resíduos que dobra de tamanho a cada década e que hoje, acredita-se, ocupa área de 1,4 milhão de quilômetros quadrados. Mas um grupo de pesquisas estima que, na realidade, o lixo hoje esteja presente em todo o Pacífico, embora a maior parte dele esteja concentrada em algo que os oceanógrafos chamam de redemoinho -uma área de correntezas fortes e ventos fracos que mantêm o lixo girando em um turbilhão gigantesco.
Cientistas dizem que a mancha do lixo em questão é apenas 1 de 5 que podem estar presas em redemoinhos gigantes espalhados pelos oceanos do mundo. Parte do lixo é formada por equipamentos abandonados, como boias, linhas e redes de pesca, mas outros objetos vêm da terra, tendo sido levados ao mar por tempestades e esgotos despejados na água.
O plástico é o material mais presente na mancha de lixo, porque é leve, durável, onipresente e descartado por sociedades tanto ricas como em desenvolvimento. O plástico pode boiar por centenas de quilômetros antes de ser preso em um redemoinho e, com o tempo, se fragmentar.
Uma vez fragmentado em pedacinhos, estes parecem confete espalhado na água. Bilhões, trilhões ou mais dessas partículas flutuam nos redemoinhos de lixo mundiais.
PCBs (bifenil policlorado), DDT e outras substâncias químicas tóxicas não se dissolvem na água, mas o plástico os absorve como se fosse uma esponja. Os peixes que se alimentam de plâncton ingerem as partículas minúsculas de plástico. Cientistas da Fundação Algalita de Pesquisas Marinhas dizem que os tecidos de peixes contêm algumas das mesmas substâncias químicas que o plástico. Os cientistas acreditam que as substâncias químicas tóxicas estejam migrando do plástico que os peixes consomem para a carne dos peixes.
Pesquisadores dizem que quando um predador -um peixe maior ou um humano- consome o peixe que consumiu plástico, pode estar transferindo toxinas para seu próprio tecido orgânico, e em concentrações mais altas, já que toxinas de múltiplas fontes alimentícias podem se acumular no corpo.
Charles Moore encontrou a mancha de lixo do Pacífico há 12 anos, por acaso, quando retornava de uma regata no Havaí. No verão americano deste ano, Moore levou três pesquisadores, seu imediato e um jornalista ao local, em sua décima viagem científica ao "lixão" marítimo. Ele está convencido de que existem manchas de lixo semelhantes que ainda não foram descobertas. "Em qualquer lugar onde você procurar o lixo de fato, você o encontrará", disse.
Muitos cientistas acreditam que há uma mancha de lixo ao largo da costa do Japão e outra no mar de Sargasso, no meio do Atlântico.
Moore é a primeira pessoa a ter feito pesquisas científicas mais sérias com o lixo, retirando amostras da mancha. Em 1999, ele criou a fundação Algalita, que examina detritos plásticos e colhe amostras de água poluída da costa da Califórnia e em todo o oceano Pacífico.
Seus pesquisadores medem a quantidade de plástico presente em cada amostra e calculam o peso de cada fragmento. Além disso, testam o tecido de qualquer peixe capturado nas redes, para medir o nível de substâncias químicas tóxicas. Um peixe da espécie Elagatis bipinnulata, capturado em uma viagem anterior, tinha 84 pedaços de plástico em seu estômago.
A equipe ainda não examinou os peixes capturados em sua viagem mais recente, mas amostras indicam que a quantidade de plástico no redemoinho e no Pacífico de modo geral está aumentando. Amostras de água colhidas em fevereiro continham duas vezes mais plástico que as de uma década atrás. Para Jeffery Ernst, da equipe de Moore, a mancha de lixo "nos mostra que não existe lugar nenhum no mundo que não tenha sido afetado pelo homem".


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