São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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O GOVERNO OBAMA

Família aprende sobre a vida em uma bolha

AMANDA RIVKIN
Os Obama agora vivem dentro dos limites impostos pelo cargo. Acima, guarda-costas leva Sasha (à esq.) e Malia à escola

Por PETER BAKER

CHICAGO - Algumas semanas atrás, Barack Obama foi ao salão Hyde Park para cortar o cabelo. Sentou-se na mesma cadeira, diante do mesmo barbeiro que corta seu cabelo há 14 anos.
Recentemente, porém, quando ele quis aparar o cabelo novamente, o Serviço Secreto olhou para as grandes janelas de vidro da barbearia e para os turistas ansiosos por um vislumbre do presidente eleito, e o plano mudou rapidamente. Se Obama não podia mais ir ao barbeiro, o barbeiro teria que ir até ele.
A vida do presidente eleito e de sua família mudou para sempre. Mesmo as restrições e a segurança da campanha não se comparam à bolha que envolveu Obama nos dias após sua eleição. Renegade, como o Serviço Secreto o chama, hoje vive dentro dos limites rígidos que acompanham o cargo de maior poder no planeta.
Obama optou por passar o intervalo entre a eleição e a posse, em 20 de janeiro, em sua casa em Hyde Park, transformada em uma fortaleza. Após dois anos de discursos e comícios, Obama se encerrou numa reclusão quase ermitã, escondido dos olhares do público, visto só ao deixar as duas filhas na escola ou sair para exercitar-se.
“Esta é uma transição pessoal tremenda, que vai muito além do que qualquer pessoa pode imaginar”, disse Alexi Giannoulias, tesoureiro do Estado do Illinois e amigo íntimo de Obama. “Coisas simples como ir à academia, ir ao cinema, sair para jantar com sua mulher —nada disso voltará a ser como antes, nunca mais. Coisas que as pessoas vêem como normais.”
Obama está protelando a mudança ao máximo. “Não vou passar muito tempo em Washington nas próximas semanas”, disse ele a alguém ao telefone, numa conversa ouvida casualmente por jornalistas no avião fretado em que ele retornou a Chicago após uma visita recente à Casa Branca.
Pelo fato de permanecer em Chicago, pode ser mais fácil para ele evitar ser envolvido em decisões pelo governo em final de mandato, e isso acentuará a sensação de mudança quando ele for a Washington já como o novo presidente. Mas a vida de Obama está cada vez mais presidencial. Ele ainda não tem acesso ao Air Force One, o avião presidencial, mas anda numa limusine governamental blindada. Embora o Serviço Secreto tenha montado barreiras de concreto em volta de sua casa em Chicago há muito tempo, o perímetro de isolamento foi ampliado em vários quarteirões após a eleição.
“As coisas mudaram”, disse Mesha Caudle, 45 anos, que vive a uma quadra da família Obama. “Você tem que dar uma volta de três quarteirões para cobrir uma distância de apenas um.”
Comprada em 2005 por US$ 1,65 milhão, a residência dos Obama é uma mansão imponente no meio da área racial e economicamente diversa de Hyde Park-Kenwood, perto da Universidade de Chicago. Obama é o primeiro presidente desde Richard Nixon a ter sido eleito enquanto vivia num bairro urbano. A expectativa é que ele mantenha sua casa em Chicago. As ruas em volta da casa foram fechadas ao tráfego externo. Os moradores precisam passar por barreiras, apresentando seus documentos de identidade com fotos.
Obama agora não pode mais passar na Medici para comprar doces ou olhar vitrines com suas filhas na livraria 57th Street Books, pelo menos não sem preparativos prévios complexos. Ele conseguiu, porém, levar sua mulher, Michelle, ao Spiaggia, restaurante italiano quatro estrelas no centro de Chicago, num sábado à noite.
O dia do presidente eleito começa com o café da manhã com suas filhas, disseram assessores, e ele as levou à escola algumas vezes desde a eleição. Para sua sessão diária de malhação, vai à academia do edifício Regents Park, onde vive seu amigo Mike Signator. Depois, Obama segue para o escritório da transição montado no edifício federal Kluczynski.
“Ele parece estar muito, muito focado na transição”, disse outro amigo de Obama, John W. Rogers Jr., presidente da Ariel Investments. “A eleição não parece tê-lo mudado em nada. Ele ainda é o mesmo Barack descontraído, simpático, que tem tudo sob controle, que sempre foi.”
O barbeiro de Obama, Zariff, 44 anos —ele só usa um nome—, foi ao apartamento de Mike Signator recentemente para aparar o cabelo de Obama e cobrou o mesmo preço de sempre, US$ 21.
“Ele está com um ar bem mais presidencial agora; seu andar está um pouco diferente”, disse o barbeiro. Obama não é mais o sujeito que anda a pé por seu bairro. “Acho que ele sente falta disso”, comentou Zariff. “Mas é o preço da fama.”

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