São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Por JOHN HARWOOD

A história comprova: Obama não terá muito tempo a perder

O período pós-eleitoral pode parecer frenético para quem vê o presidente eleito Barack Obama correndo entre entrevistas de emprego secretas com ex-rivais das primárias democratas, reuniões sobre a crise financeira e discussões sobre como salvar a indústria automobilística dos Estados Unidos.
Mas em breve ele e sua equipe de transição deverão se lembrar desta como uma fase luxuriosa e lânguida, uma transitória oportunidade para a “pressa deliberada”, como Obama caracterizou o ritmo do seu processo de seleção do gabinete. Depois, será só pressa.
Há alguns meses, seu companheiro de chapa, Joe Biden, alertou que o futuro presidente seria submetido ao teste de uma crise internacional em seus primeiros seis meses. Mas a história demonstra que os problemas não esperam meses, às vezes nem horas.
O “primeiro dia” permite, em grande medida, que os novos presidentes ditem o seu tom. Foi então que Franklin Roosevelt declarou que “a única coisa a temer é o próprio medo”; que John Kennedy exortou a “não perguntar o que o país pode fazer por você”; e que Ronald Reagan declarou que “o governo não é a solução do nosso problema”.
Imediatamente após tomar posse, Jimmy Carter alegrou parte do país ao anistiar pessoas que rejeitaram o alistamento para o Vietnã. Reagan aproveitou um fato externo que alegrou o país inteiro, quando o Irã libertou reféns americanos.
No segundo dia de Bill Clinton no cargo, seu secretário da Defesa, Les Aspin, foi execrado pela cúpula militar por causa da intenção do novo presidente de permitir homossexuais assumidos nos quartéis. Esses dramas iniciais se desenrolaram publicamente. A portas fechadas, outros presidentes rapidamente enfrentaram testes que marcaram os seus mandatos.
Um mês após tomar posse para o seu único mandato completo, Lyndon Johnson queixou-se reservadamente de um discurso do seu vice, Hubert Humphrey, sobre o Vietnã. Humphrey, por sua vez, se sentia marginalizado por Johnson. Dois meses depois da posse, Richard Nixon começou a bombardear secretamente o Camboja. Em três meses, Reagan foi baleado; Kennedy ordenou a invasão da baía dos Porcos, em Cuba; e George W. Bush enfrentou um confronto com Pequim devido à colisão entre um avião-espião americano com um caça chinês.
E, com oito meses de mandato, os atentados de 11 de Setembro de 2001 lançaram o governo Bush numa direção que ele jamais antevira.
A lista de problemas conhecidos que aguardam Obama é no mínimo equivalente à de qualquer antecessor recente. Embora as condições tenham melhorado na guerra do Iraque, que ele promete encerrar, elas pioraram na guerra do Afeganistão, que ele promete ampliar.
O consumo está em queda, o desemprego está em alta, e a indústria automobilística dos Estados Unidos diz que pode não ter dinheiro para resistir até a posse de Obama. O G20, grupo que reúne países desenvolvidos e emergentes, e que na ausência do novo líder norte-americano deixou questões regulatórias importantes pendentes na reunião de 15 de novembro em Washington, planeja outra sessão, para abril de 2009, depois da posse de Obama.


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