São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Boliches "chiques" atraem público descolado


Novas casas têm código de vestimenta e atraem DJs e chefs


Por N.R. KLEINFIELD
Enquanto Nova York luta para ressuscitar sua economia, precisa de novos motores de crescimento poderosos. Wall Street pode parecer mais firme, mas nunca mais será a velha Wall Street, quando US$ 10 habitualmente se tornavam US$ 1 milhão durante o intervalo para o almoço. Outra erupção nos preços dos imóveis? É difícil. Deve haver outra resposta.
E há: os boliches.
No andar superior do terminal de ônibus da Autoridade Portuária, no centro de Manhattan, há cordas de veludo guardadas por um porteiro de terno preto. Por que ele está ali? Para selecionar os clientes apropriados para jogar boliche no superlotado Leisure Time Bowl. Sim, existe um código de vestimenta nessa casa.
"Não permitimos aqueles jeans muito largos que quase caem do quadril", disse Ayman Kamel, gerente-executivo do lugar. "Ou aqueles lenços de cabeça que representam gangues. E nada de grossas correntes douradas."
E que tal uma camisa de boliche? "Bem, desde que seja uma de aspecto fino", ele disse. No fim do mês, o lugar ganhará o novo nome de Frames e abrirá um restaurante chique e pistas VIP (duas pistas privativas com bar), seguidos de um clube noturno no final do ano.
Não muito longe fica o Lucky Strike Lanes, outro boliche fino que abriu no final de 2008 e é filial de uma rede que começou em Hollywood. Boliches em outros bairros poderão se seguir. No centro há o Bowlmor Lanes, um precursor entre os boliches contemporâneos, que foi re-estilizado pelo novo proprietário, em 1997. Três meses atrás ele abriu um clube de jogos e shows em Coney Island chamado Carnival.
Em outubro, o boliche Bowlmor deverá ser inaugurado como o maior inquilino varejista no antigo edifício do "New York Times", em Midtown.
Em 2007, uma fábrica de colchas em Williamsburg, no Brooklyn, tornou-se o bar Gutter, com um boliche de oito pistas em estilo retrô, o primeiro novo boliche a abrir em Brooklyn em meio século. O Brooklyn Bowl, combinação de clube de música e boliche feito em uma antiga metalúrgica, seguiu-se em Williamsburg no ano passado. O Harlem Lanes chegou em 2006, o primeiro boliche no Harlem desde a década de 1980.
Estes se somam ao mais estabelecido 300 New York, em Chelsea Piers.
Talvez a tendência não seja grande o suficiente para levantar a cidade inteira, mas é alguma coisa.
Esses não são os boliches "sujinhos" do passado, mas instalações modernas, muitas vezes combinadas com restaurantes, bares VIP, clubes, bares esportivos. Iluminação escura. DJs e música trovejante. Vídeos projetados em telas planas sobre os pinos. Serviço de garçons. Código de vestimenta. Elegância.
O jogo é muitas vezes uma maneira de matar o tempo entre pedidos de bebidas. As casas contam com festas de empresas e particulares. Alguns clientes nunca se dão ao trabalho de jogar.
Enquanto isso, os boliches convencionais continuam fechando. Ao todo, há 23 boliches na cidade, segundo o Congresso de Boliches dos EUA, o órgão setorial. Na década de 1970 ele calculou que havia cerca de 200.
O Bowlmor é propriedade da Strike Holdings, e em sua sede no centro da cidade o executivo-chefe Thomas Shannon falou sobre o velho boliche e o novo, que poderá salvar Nova York. "Antigamente, se você queria jogar boliche tinha de sofrer alguma espécie de privação", ele disse. "Comida ruim -o hot dog na grelha giratória, chope sem gás, nenhum serviço."
O Bowlmor e os boliches de luxo geralmente evitam os campeonatos. Eles não querem sujeitos que aparecem uniformizados, com vastas barrigas de cerveja e seu próprio equipamento e que querem pagar US$ 1,95 por jogo.
"Eles querem a experiência mais barata e miserável", disse Shannon. "Eu descreveria isso como uma experiência stalinista."
Recentemente no Leisure Time, propriedade de uma firma dinamarquesa, as pessoas jogavam, mas não muito bem. A pontuação era patética: 51, 17, 7. Certamente estavam bebendo. A bebida típica é a torre de cerveja, um tubo que contém cinco litros de cerveja. Kamel, o gerente-geral, apontou para o restaurante a ser inaugurado em breve, Onyx. Custo: US$ 100 mil.
O Cozy Lanes está na outra ponta do espectro. Comida? Melhor não falar sobre isso. Sala VIP? Nenhuma planejada. Não há música de rock para abafar o ruído dos pinos que caem. O lugar tem um aspecto cansado, e recentemente John Sutton, 68, estava jogando ali com uma média de 188.
O boliche pode salvar a cidade?
"Talvez esse boliche-discoteca possa", ele disse. "Mas não está salvando os bolicheiros. Não está me salvando."


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