São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Por que elas brigam no trabalho?

Por PEGGY KLAUS

As mulheres percorreram um longo caminho na quebra de barreiras no mercado de trabalho, mas um dos obstáculos remanescentes é o tratamento que dão umas às outras. Em lugar de ajudar-se mutuamente a fomentar suas carreiras, elas às vezes as prejudicam -por exemplo, limitando o acesso de colegas a reuniões importantes, deixando de transmitir informações, tarefas ou promoções, ou, ainda, bloqueando o acesso de outras mulheres a mentores e superiores.
E, se você é mulher e tem uma colega de trabalho que pratica o "bullying" (agressões ou assédio contra pessoas em posição mais fraca ou inferior), cuidado. Um estudo recente do Instituto de Bullying no Local de Trabalho sobre comportamentos em escritórios -como abusos verbais, sabotagem no trabalho, mau uso da autoridade e destruição de relacionamentos- constatou que mulheres agressoras visam outras mulheres mais de 70% do tempo. Já os homens que são "bullies" tendem a praticar a igualdade de oportunidades quando se trata do gênero do alvo de suas agressões.
Apesar de todo o dinheiro gasto anualmente em conferências sobre liderança feminina e programas de desenvolvimento profissional, seria difícil encontrar um workshop sobre mulheres que maltratam outras mulheres no trabalho. Ensinar habilidades profissionais não é o bastante se elas ignoram uma das razões mais importantes pelas quais esses eventos são realizados em primeiro lugar: aprender a valorizar umas às outras para que todas possam progredir.
Não faltam teorias sobre por que as mulheres se solapam no trabalho. Talvez a mais popular seja a desculpa da escassez -ou seja, a ideia de que há poucos cargos superiores disponíveis, de modo que as que ocupam funções seniores não se dispõem a ajudar colegas do sexo feminino que poderiam vir a substituí-las. Outra explicação pode ser a "teoria do faça-você-mesma", que diz: "Se tive que abrir caminho sozinha para subir na empresa, por que eu deveria ajudar você?"
Alguns alegam que as mulheres maltratam umas às outras por excesso de emotividade, o que as levaria a dar atenção excessiva a nuances insignificantes e a guardar rancores. Há quem diga que, embora as mulheres compitam tranquilamente nos esportes ou na escola, elas ainda não aprenderam a competir de forma saudável no trabalho. Por exemplo, homens frequentemente extravasam inveja ou ciúmes com humor ou elogios que carregam farpas: "Vou lhe dar uma surra nas vendas este mês". Esse tipo de brincadeira não seria visto pelas mulheres como tão socialmente aceitável.
Esperar que as mulheres sejam universalmente solidárias umas com as outras ou que deem tratamento preferencial a qualquer mulher é uma expectativa igualmente inviável.
Para derrubar um dos últimos empecilhos que ainda resistem à paridade entre gêneros, devemos começar a tratar umas às outras não melhor nem pior, mas simplesmente tão bem quanto tratamos os homens -ou, ainda, como gostaríamos de ver tratadas nossas sobrinhas, filhas, netas e irmãs.


Texto Anterior: China perde o gosto pela dívida americana
Próximo Texto: Caos não assusta empreendedores argentinos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.