São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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Europa quer madeira que cumpra regras

Por LIZ GOOCH
TEMERLOH, Malásia - Troncos enormes de meranti, muitos deles destinados a regiões distantes, se empilham ao longo da estrada em Temerloh, cidade malasiana a cerca de duas horas de carro a nordeste de Kuala Lumpur, aguardando seu encontro com a serra.
Ali perto, na serraria Maran Road, trabalhadores cortam agilmente a madeira em tiras mais finas, aumentando o manto de poeira ocre entre eles.
Todos os troncos têm números rabiscados nas extremidades, indicando a área de onde vieram e a licença da madeireira -o que garante aos compradores que a madeira foi colhida legalmente e pode ter sua origem identificada.
Enquanto as serras de fita zumbiam em uma sexta-feira recente, o diretor da serraria, Ng Kay Yip, mostrava as instalações para um potencial comprador da Holanda, explicando como as árvores foram abatidas e mostrando a fábrica próxima, onde a madeira é aplainada em peças semiacabadas para janelas e portas.
A Europa já é um importante mercado de exportação para a empresa, mas Ng e outros do setor esperam que venham mais compradores europeus. A Malásia quer se tornar o primeiro país asiático a assinar um acordo voluntário com a União Europeia garantindo que toda a madeira exportada foi colhida legalmente.
A UE diz que o pacto provavelmente dará à Malásia e a outros países que assinarem acordos semelhantes uma vantagem competitiva, pois o bloco pressiona por uma regulamentação mais rígida por causa de preocupações ambientais. No ano passado, países da união de 27 membros importaram madeira, carvão de madeira e cortiça no valor de 8,5 bilhões de euros (quase R$ 20 bilhões) -4,6% deles da Malásia.
A extração descontrolada de madeira pode destruir o habitat de animais, causar erosão e aumentar o risco de desastres naturais como inundações e deslizamentos de terra, contribuir para o desmatamento e a mudança climática e privar os governos de receita fiscal. Um relatório do World Wide Fund for Nature estimou que a madeira colhida ilegalmente representou até 19% das importações de madeira da União Europeia em 2006, com a Rússia e a Indonésia como principais culpados.
A UE não tem uma lei abrangente que impeça a importação de produtos de madeira colhida ilegalmente, mas, em reação à demanda dos consumidores, algumas empresas voluntariamente compram madeira de fontes certificadas por vários grupos apontados como sustentáveis. A UE está considerando uma legislação que exigiria que todos os importadores do bloco realizassem diligências para mostrar que a madeira foi colhida legalmente.
As empresas que importam de países que assinarem um acordo voluntário, como o que está sendo negociado com a Malásia, receberiam uma "pista verde" para entrar nos mercados europeus e ficariam isentas de outros controles. "Não há dúvida de que isso criará uma vantagem para os comerciantes de madeira no mercado europeu", disse Vincent Piket, chefe da delegação da União Europeia na Malásia.
Sob seu plano de Aplicação da Lei Florestal, Governança e Comércio, a UE já assinou acordos com Gana, República do Congo e Camarões. Além da Malásia, há negociações em curso com Indonésia, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão e Libéria. Sob os acordos de parceria voluntária, os países-fontes são responsáveis por determinar que a madeira foi colhida conforme as leis nacionais e os critérios dos acordos europeus. Enquanto os acordos podem variar entre países, as exigências em geral incluem que as árvores não sejam cortadas de florestas protegidas, que espécies ameaçadas não sejam derrubadas e que as companhias acatem os regulamentos de comércio e alfândega.
Um monitor independente, como uma empresa de auditoria, conduziria verificações no local para garantir o cumprimento.
"É uma medida muito positiva a ideia de introduzir essas mudanças estruturais, exigindo que as empresas usem sistemas de controle, mas acreditamos que não é suficiente", disse Sébastien Risso, diretor de políticas florestais do Greenpeace na União Europeia.
As empresas europeias deveriam ser obrigadas a mostrar a cadeia de custódia de um produto, ele disse, documentando seu trajeto desde a floresta até o destino final.
Rupert Oliver, diretor da consultoria britânica Forest Industries Intelligence, disse que a legislação proposta poderia resultar na venda de madeira ilegal para outros países que não têm regras rígidas de importação de madeira, como a China e a Índia.
"Realmente isso não vai à raiz do problema", ele disse. "Transfere-o para outro lugar."


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