São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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O vasto oeste vira uma sala de aula

Por RANDY KENNEDY
LUBBOCK, Texas - Poucos marcos se erguem acima desta terra plana -caixas d'água, antenas de rádio, árvores solitárias. Mas ainda há "muita terra e nenhum lugar para ir", como observou o artista Donald Judd sobre o oeste do Texas. Por isso, talvez haja poucas bases de operação melhores para um programa acadêmico incomum que se enraizou aqui, no qual acadêmicos estudam e fazem arte em lugares quase tão distantes de museus e galerias quanto é possível nos EUA continentais.
Chamadas "Artes da Terra do Oeste Americano", as aulas ocorrem em duas "vans" de carga Ford ou onde quer que elas e o equipamento de camping que carregam acabem parando no percurso de 11 mil km, feito em dois meses, por todo o oeste.
O resultado tangível da viagem é uma exposição anual de arte, textos e outros documentos sobre a jornada (para mais informações, visite landarts.org). Mas o coração do programa está fora da estrada. Chris Taylor, um professor de arquitetura formado em Harvard que ajudou a desenvolver o conceito, juntamente com o artista Bill Gilbert, dirige o programa na Universidade Texas Tech aqui em Lubbock, que leva ele e seus alunos ao extremo leste do território -sudoeste do Texas, Novo México, Arizona, Utah e Nevada- que ele transformou em sala de aula.
Muitas escalas na viagem são esperadas, os legados do movimento de arte da terra e Earthworks, que transplantou a ideia de escultura para os espaços abertos a partir dos anos 1960: o "Jato Espiral", de Robert Smithson, na margem do Grande Lago Salgado; o "Campo de Raios", de Walter De Maria, no oeste do Novo México; os "Túneis do Sol", de Nancy Holt, no noroeste de Utah; o "Duplo Negativo", de Michael Heizer, duas profundas trincheiras cortadas na borda de um platô no deserto de Nevada.
Mas outras paradas, algumas exigindo observação atenta do hodômetro em lugares tão distantes que os mapas GPS de pouco adiantam, sugerem um itinerário desenhado por Rachel Carson e Howard Zinn, com a ajuda de Foucault e do marquês de Sade. Os estudantes já passaram algum tempo perto de uma das maiores minas de urânio a céu aberto, hoje inativa, na reserva Laguna Pueblo a oeste de Albuquerque. Acamparam em um trecho desolado do deserto do Novo México chamado Cabinetlandia, de propriedade da revista de arte "Cabinet", encaixado entre uma ferrovia ativa e o tráfego intenso da Interestadual 10, onde há pouco mais conforto que uma caixa de correio e uma "biblioteca" comunitária em um arquivo de ferro embutido em uma parede de concreto e terra.
O programa funciona com um orçamento de cerca de US$ 30 mil fornecido pelas inscrições e doações de participantes. Taylor disse que pretende ser tão agnóstico sobre a definição de arte quanto a própria paisagem é vasta. "Eu defino arte como qualquer coisa que as pessoas fizeram na terra", ele disse, acrescentando que o oeste dos EUA é o lugar ideal para essa abordagem.
William L. Fox, um escritor e diretor do Centro para Arte e Ambiente de Reno, disse acreditar que esse tipo de arte e de atividades acadêmicas interdisciplinares podem florescer no oeste porque os artistas o veem como um lugar onde as fronteiras são menos rígidas.
"Para mim, arte tem a ver com fazer metáforas, e, para isso, você se alimenta de novas fontes de informação", disse Fox. "Em um sentido, é isso que os artistas estão fazendo, assim como os cientistas: 'Em que áreas podemos meter nosso nariz que nos deem novas informações e nos mostrem como trabalhar de maneiras que nunca pensamos?'"
Rocio Mendoza, uma aluna de arquitetura que viajou com o grupo em 2010, voltou a Lubbock para propor uma ideia de projeto que, à primeira vista, poderia parecer meramente um exercício conceitual fantástico, a de erguer dezenas de milhares de pequenos abrigos baratos ao longo da fronteira dos EUA com o México. Mas a ideia surgiu depois que ela se afastou do grupo certa manhã no mato no sul do Arizona e encontrou dois mexicanos desorientados que estavam cruzando ilegalmente a fronteira.
Ela fez um vídeo sobre a experiência, no qual lembrou a história contada por sua mãe de que fora carregada através do rio Grande, muitos anos antes, com sete meses de gravidez. "Ao encontrar aqueles dois homens, tudo, de repente, se encaixou e se tornou pessoal e político", ela diz no vídeo, olhando para a câmera.



ON-LINE: SHOW DE SLIDES
Veja fotos da viagem do programa pelo oeste Americano:
nytimes.com/design
Digite no buscador o seguinte: "Chris Taylor"


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