São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Lente

Adultos que enfrentam dores do amadurecimento

Marcada por desequilíbrios hormonais, ingerência paterna e confusão em relação ao que virá a seguir, a adolescência frequentemente é vista como nada mais que um prelúdio, que é melhor esquecer, às alegrias eternas das responsabilidades adultas.
Mas, se a idade adulta é tão ótima, por que tantas pessoas jovens e nem tão jovens a vêm adiando?
Homens e mulheres na casa dos 20 anos e mais velhos, em muitas sociedades, vêm adiando o casamento, os compromissos profissionais e até mesmo o momento de sair da casa dos pais. Essa mudança é suficientemente pronunciada para levar cientistas sociais a se esforçarem para definir toda uma nova fase de vida com nomes como "adolescência tardia", "idade adulta emergente" e "os anos da odisseia".
Seja qual for o nome dado a essa fase, ele descreve um período de experimentação incansável e indefinição.
A despeito do crescente subgênero criado em Hollywood de comédias sobre homens-meninos que não sabem o que fazer da vida, nem todos os novos jovens na casa dos 20 anos são pessoas que não fazem nada na vida ou são desmotivadas. Como diz Brooks, muitos adultos jovens em todo o mundo estão reagindo a reviravoltas culturais suscitadas pela mudança para uma economia global baseada na informação. Os bons empregos estão mais difíceis de encontrar, menos seguros e exigem mais educação, tornando o estabelecer-se em uma carreira uma opção menos evidente.
Os jovens de 20 e poucos anos sem rumo na vida "e seus pais prematuramente envelhecidos" podem encontrar algum consolo na neurociência. Como informou o "New York Times", acreditou-se durante muito tempo que o cérebro chegava à maturidade na puberdade. Estudos recentes, contudo, sugerem que para isso é preciso esperar até pelo menos os 25 anos de idade. Em particular, o córtex pré-frontal e o cerebelo, responsáveis pelo controle emocional e a função cognitiva, tendem a demorar em seu desenvolvimento.
Assim, alguns anos a mais de confusão e incerteza podem ser exatamente o que a natureza pretendia.
Os pais ansiosos podem pelo menos saber o que se passa com seus filhos adultos, já que muitos continuam a viver em casa. A recessão global fez com que pagar um apartamento, o que dirá iniciar uma família nova em uma casa, pareça ser uma dificuldade insuperável. Nos EUA, 40% das pessoas na casa dos 20 anos se mudam de volta para a casa dos pais pelo menos uma vez, informou o "Times".
Na Itália, continuar a viver com a mamãe é algo que se deve a mais que apenas fatores econômicos. Os chamados "mamoni", ou filhinhos da mamãe, são vistos como responsáveis pelo índice de natalidade cronicamente baixo nesse país.
E, na Índia, mesmo homens casados e bem-sucedidos continuam a consultar suas mães. "Há um cordão umbilical enorme e contínuo entre mães e filhos homens", disse Tarun Das, especialista comercial na Índia, ao "Times".
Essa tendência provavelmente não é nova. Como também não são novos a "idade adulta emergente", a "adolescência tardia" ou "os anos de odisseia".
Como reportou a "The Times Magazine" em 1970, Kenneth Keniston, um psicólogo de Yale, publicou um artigo sobre as vidas confusas e desenraizadas dos jovens dessa época. Os "pós-adolescentes", escreveu, eram incapazes de definir "questões de vocação, questões de papel social e de estilo de vida". Em outras palavras, escreveu, "parece que simplesmente não conseguem firmar-se na vida".
O rótulo que ele mesmo sugeriu para essa fase da vida: "juventude".

KEVIN DELANEY
Adultos que enfrentam dores do amadurecimento Sunday, September 26, 2010



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